Arquivo de fevereiro, 2010

Tenho sido visitado…

Publicado: 27/02/2010 por JEFF em Poesia

As portas dos eventos se fecharam
e o velho da montanha disse:
tome a decisão, em breve o tempo vai exigir isto de você
Desde então,
venho morrendo pelas metades
definhando pelos cantos de porões distantes
destruindo os rituais,
renegando formas
o Anjo da morte me visitando
sussurrando palavras macabras ao pé do ouvido
obscuridades rodando o recinto
eu não vou me jogar de penhasco coisa nenhuma
nem tenho intenção de fazer o show esperado
Avise que as cartas não foram lidas
que qualquer palavra que eu disser
irá lhe trazer sofrimento
nunca ouvi, nem segui as vozes
elas não sabem o que dizem
elas se contradizem
por isso,
mergulhei nas profundezas das águas
fui até no núcleo da Terra
voei até o topo do mundo
achei ter eliminado parte de meus problemas
mas, estranhamente, eles permanecem
tudo permanece intacto
não é o destino,
mas o caminho percorrido pela viagem
as águas se elevam
o sol se reposiciona
o ar se agride
as palavras se perdem
um obstáculo se levanta
as horas se fundem,
o tempo se dissolve no infinito
e lá vem o Anjo da morte
tentar me convencer, mais uma vez,
que tenho que ir com ele…
É mesmo esse o destino que o pai projetou para seu filho esquecido?
Acho que não…

JEFERSON

O grande império das vaidades

Publicado: 26/02/2010 por JEFF em Poesia

Meias palavras ordinárias caem do céu como fogo
estamos no tempo das vaidades
talvez nem haja muito o que fazer
eles o rotularam como louco por que ele via a verdade desmedida
luzes difusas
no final de algumas imagens igualmente embaçadas
por que é isso que estes dias se tornaram
é isto que restou da claridade almejada pelos covardes
Pessoas se vendem fácil
algumas nem encontram outros dispostos a pagar
Os chefes do Império se reúnem em salas
taxam os pesos, criam as medidas
a transformação fatal de tudo em mercadoria
em estado avançado de decomposição
pessoas decompostas pelos visuais projetados
o reino das aparências, o maldito parecer algo
a necessidade de rótulos, de ser rotulado
essa mania asquerosa de pensar pequeno
de sempre se enquadrar em um conceito existente
eu vou… apenas indo…
não me importo com o cai do céu
nem com o que brota da terra
parece bom, mas falta pouco…
este é o momento antes que nada mais faça alguma diferença

JEFERSON

Resistência

Publicado: 25/02/2010 por JEFF em Poesia

Quantas forças rondam esta sala?
Quais são os desígnios do prosseguir?
Quem encoraja as tropas?
Por que elas lutam?
Quem define as tendências da mola do desenvolvimento
Estamos desafiando todos por horas a fio
mas Eles permanecem inertes, estes malditos
…nós também
Nossos heróis estão voltando pra casa
de mãos vazias
Os inimigos são muitos
e dizem que não há mais glória na resistência
Alguns obedecem cegamente
alguns acreditam que este é o caminho
outros agem sob o manto da conveniência
Uma hierarquia desconhecida decidiu
que os que sobraram devem se render
alguns o fizeram,
mas acho que temos um problema
pois não estou nem um pouco afim de recuar…

JEFERSON

Subterfúgio

Publicado: 23/02/2010 por JEFF em Poesia

Olha lá
são as águas subindo
Olha lá
é a gente ficando submerso
se despedindo dessa coisa toda…
Sinta o momento
perceba a inércia
o peso nos jogando para o fundo
tudo ficando mais distante
o ar acabando
a avidez se esvaindo
as linhas sendo compostas
os acordes distorcidos
a visão mudando sutilmente
os universos reunidos
Olha lá
é tudo ficando escuro
é tudo existente deixando de ter importância
as coisas se igualando
tudo flutuando descompromissadamente
à frente, nada além do desdobramento do inevitável…
Olha lá
são as cicatrizes parando de incomodar
as feridas parando de doer
não somos mais reféns de alegrias ou tristezas
não temos mais incertezas
Olha lá
são as águas subindo
a gente ficando submerso
é o último olhar antes de tudo ficar escuro
a gente indo…
nos despedindo dessa coisa toda…

Só me resta um último pensamento torto
…Seremos acolhidos pelo cerne das águas?

JEFERSON

Esferográficas

Publicado: 22/02/2010 por JEFF em Poesia

Os dias claros?!
Escureceram…
O ar começa a acabar
e não conseguimos tomar as decisões
Relógios, milhares deles
insinuando o despertar
escrevo sobre o fim das coisas
recolhendo sinais deixados ao pé das portas
o desconcerto que é a transparência e sinceridade em demasia
mas não importa
Ele recusou a felicidade na ignorância
teve que ir até à beira do penhasco para entender
como queimam os arcos,
como sangram os anos
como abandonamos os dias
escalas quase inúteis em “dó maior “
violinos rangendo
como nos entregamos ao surto
o que é mais relevante
o pai ferindo o filho com palavras pontiagudas
valas sendo abertas
desejos sendo empilhados
os egoístas se reunindo semanalmente
só para verem quem é o melhor
Todos indo dormir mais cedo
a cidade em prantos
todos indo dormir mais tarde do que antes
as luzes cintilantes
as coisas desmoronando
tudo se desfazendo
como um simples soprar de um vento
à beira do sobressalto

Podemos mudar de assunto abruptamente
podemos dissipar a qualquer momento
Ela, por exemplo, arrancou seus tímpanos
porque não conseguia mais ouvir seu nome ao telefone
Ele não parava de ler “Como um veludo subterrâneo a altas horas da noite
e eu,
que não os conheço
nem tenho nada haver com a história desses dois,
não consigo compreender porque sai tanto sangue das canetas esferográficas…

JEFERSON

Recitando rubricas

Publicado: 21/02/2010 por JEFF em Poesia

(respirando por um tempo, com “Heroin” ao fundo, até sentir que é a hora…)
Eu… (arrastado e debochado, pausando entre as palavras)
Vejo… (da mesma forma que acima)
Apenas vou andando (desleixado)
Sou… (devagar, debochado, como se não se importasse…)
Eu não sei… (dando ênfase no “não”)
Eu não sei… (arrastado, dando mais ênfase no “não”)
As correntes (acelerado)
as sementes
a mordida e os dentes
os queridos e todos os outros entes
o que cria os mistérios
o que compõem as enchentes
o que entra, o que rasga
e o que vai pelos ventres (desacelerando)
dos horizontes mortos
às torrentes (calmamente)
movimentos imprecisos… (arrastado e evasivo)
continuo… (soturno, com “Heroin” ainda ao fundo)
eu continuo… (mais evasivo)
mas eu não sei… (mais arrastado e mais debochado)
mas eu não sei… (idem)
como acabar comigo agora… (depois de algum tempo)
(eu ainda não sei como…)
acabar… (arrastando até acabar o fôlego)
desintegrar… (deveria dar ênfase ou arrastar o “ar”?)
(eu não sei)

JEFERSON

Ano novo

Publicado: 20/02/2010 por JEFF em Poesia

Pessoas riem descuidadas ao longe
preparam suas festas
sem saberem do que as aguardam na próxima estação
Tudo parece perfeito
as ilhas se movimentam pelas ruas
com as mesmas fragilidades percebidas
as fortalezas estão mais protegidas do que nunca
os dejetos foram empilhados
o sublime muro protetor está levantado
já podemos começar as comemorações
erguer nossos copos pelo advento
contemplar o cálice
milhões de devaneios suprimidos por palavras não ditas
olhos escurecidos pelo nada
diálogos obtusos à procura de lábios esquecidos
uma palavra que valesse a pena
penumbra e escuridão
uma entrega que fosse verdadeira
um céu que caísse em caminhos reunidos
alguém que desistisse de partir
alguém que confiasse no novo,
que confiasse em mim
que achasse que estou dizendo a verdade
o mundo rodando
o fôlego acabando
sombras rondando calçadas esburacadas
o pai e o filho superando o espírito
alguém evadindo as divisas de seus distritos
as estrelas entrando em combustão
se sufocando em uma praça
a visão ampliada pelas improváveis incertezas
absurdos retráteis
manifestação de loucura compreendida
a maré invadindo as cidades
suicídio coletivo de leis arcaicas e pensamentos retrógrados
o ar poluído das aparências forjadas
a avenida sanitária mostrando o seu real esgoto
as mãos empunhando suas taças
pela honra e coragem renovadas
o ciclo recomeça
as desigualdades se tornando mais evidentes
o mundo a passos largos cultiva sua felicidade ostentada
é um novo tempo
tenho algo para beber agora…
Viva! Somos um pouco mais hipócritas!
O ano novo chegou…

JEFERSON

Um caminho

Publicado: 19/02/2010 por rodoxcaos em Poesia

Percorrendo aquele estreito caminho
A dor incessante que corre as veias
Por todos os estados do ser
Pequenas aranhas tecendo suas teias

Os reinados de que não conhecemos
Explodem em pequenas fagulhas
Instantes de embriaguês
Pontadas de milhares de agulhas

Castelos já se foram em pequenos gritos
Aquelas estradas estão estranhas
Os campos estão para serem percorridos
E as plantas azuis brotam de todas as entranhas

No formato da explosão cósmica, um brilho verde
Compondo milhões de Supernovas
No chão os corpos apodrecem virando pó
Milhares de vítimas fora das covas.

O desejo da morte aumenta a cada momento
O sangue jorra com o sutil corte
E a esperança escorre pelo ralo
Desce com a água junto à morte.

Podendo tocar as estrelas
Percorrendo-as com seu dedo
Banhando-se na imensidão negra e divina
Cortando o universo e rompendo com o medo

A viagem em torno do sol
Os vermes estão aqui brotando do chão
Consomem vários mundos num instante
Eles criam o mundo através do caos e da destruição

Cerca de duzentas bestas acordaram
O apocalipse irá acontecer
E todos os seres malditos humanos
Hão de neste instante de glória, perecer

Ao lado da imagem da Vênus estão os anjos
Divinos e imponentes, pondo-se a soprar
Ó ruiva nua saída da concha, pura beleza divina
Grande pérola doada pelo mar.

Rodolfo Morais

Prelúdio de coisas que nunca aconteceram
Um homem
e o que um homem tem que fazer…
Isto, é claro, se você consegue predizer
a que momento pode ocorrer a desfibrilação
ou entenda como são forjadas e distribuídas as medalhas
Talvez não tenha nada de relevante a dizer
O de uniforme negro deturpou a imagem do herói
quando se ausentou de sua culpa incompreendida,
deixou o brilho do sol ofuscar nossas obscuridades
e a noite revelar sua verdadeira face

Todas as noites
corremos o mais rápido que podemos
no nosso eterno “devir” de alcançarmos o inabitável
e atingir o inatingível
Dobramos as esquinas por nada
não haverá condecoração ou reconhecimento
não fomos rápidos o bastante
o mundo começa a ruir pelos princípios tramados
não há indícios que conseguiremos desvelar
por quem os sinos tocam quando a madrugada chega
não temos mais por onde avançar
e vemos a sinfonia chegar ao último ato

Era o último sol antes da longa escuridão
parecia claro o que fazer
então, ele tomou a decisão
e foi fazer sua jornada
ele sabia o que queria e o que esperavam dele
optou por ficar recluso em uma mente distorcida
todos diziam como se soubessem:
“isto não é legal, você está subvertendo a lógica das coisas, isto não é legal”
e agora não faz tanta importância
ele explora prédios e anda por lugares desabitados
…vai, vai lá
mostre do que é capaz
os absurdos já estão providenciados para serem por você herdados
vá, mostre a novidade
a arma que você criou cuidadosamente
para acabar com você mesmo
e maior novidade de todas:
vai conseguir arrastar o mundo consigo…

JEFERSON

Ela pegou o de mais precioso
e o colocou dentro de uma caixa
ele pegou o de mais precioso
e distribuiu para seus amigos
ela ligou pra ele,
ele disse que não
ele ligou pra ela,
ela disse que talvez
ela pediu de volta o que nunca entregou
e ele disse que não sentia falta de nada,
que cupim o havia deixado oco por dentro
e assim a coisa entrou pela madrugada…
Quantas rotas impossíveis podem ser feitas
até este mundo distante?

Ela não conseguia compreender as sutis diferenças
ele não conseguia parar de falar sobre os desígnios do universo
ela achou que era só fazer e pronto
ela não sabia que ele nunca estaria satisfeito
As nuvens escureceram
o mundo começou a cair
eles nem estavam juntos na hora mais complicada
ele simplesmente pegou um carro
e atravessou a cidade
ela manteve-se estável
eu não sei…
o que passa pela cabeça das pessoas dessa geração
Ela sentia falta do que tinha perdido
ele nunca acreditou que foi em vão
era sempre um mistério como as coisas se processavam
ela não entendia porque o mundo ia acabar
e ele, porque ainda não havia acabado
Quebraram a casa inteira
ela destruiu os relógios
ele, se desprendeu do tempo
é verdade…
eu realmente não sei…
eu não sei
o que passa pela cabeça das pessoas dessa geração
nem porque as coisas acontecem desta forma…

Faltava pouco para o fim
os dois me procuraram,
falaram sobre o que ia acontecer
Eu disse:
peguem um caminho para a rota do infinito
ele olhou pra ela, ela disse: não
ela olhou pra ele, ele disse: talvez
todos estão sempre sedentos de algo
a vida perspicaz dos mundos impraticáveis
uma teoria que talvez explique as coisas
o funcionamento de sistemas complexos
e dinâmicos
milhões de coisas se processando ao mesmo tempo
a cidade devastada e em chamas
Ele pegou um carro e atravessou a cidade
ela sobreviveu até a sua chegada
Eles davam valor às coisas simples
então, não foi tão difícil fazer o que achavam que era certo
Todos estão prontos quando entendem
que as coisas deveriam ser, por natureza, inexplicáveis
Ela pegou o de mais precioso
e colocou dentro de uma caixa
ele pegou o de mais precioso
e distribuiu para seus amigos
Quantas rotas impossíveis podem ser feitas
até este mundo distante?!

JEFERSON

Todo dia

Publicado: 17/02/2010 por JEFF em Poesia

Todo dia ela rabiscava
criava os seus heróis de algodão
suas órbitas
suas missões
seus destinos incompreendidos
se você soubesse
o que isso fez comigo
…se você soubesse o que isso fez comigo

Todo dia ela achava
que poderia ganhar o mundo, quarteirão por quarteirão
às vezes conseguia
às vezes decidia esquecer
degustar sensações diferentes
às vezes escolhia não escolher
você não tem noção do que isto fez comigo
você não tem noção… do que isto fez… comigo

Longa pausa
objetos desencontrados
várias versões da mesma música
seres inanimados seguindo pela rua
várias idéias excêntricas de uma só vez
palavras gritando dentro da cabeça,
uma ou outra confusão
e ela achava…
todo dia ela achava que poderia achar alguma coisa
Foi eu quem viu você chorar no banheiro
Foi eu quem viu você secar as lágrimas
respirar adormecida
foi eu quem viu você querer ir embora
…e não conseguir…
se você soubesse o que isso fez comigo
se você soubesse
o que isso fez comigo
se você soubesse
…se você soubesse…

JEFERSON

Ei garota, nós vimos o céu por diversas vezes.
E digo que nos perdemos desde então.
Não sobrou muita coisa de nós para contar não é mesmo?
Talvez o último momento seja todo o tempo que precisamos.
O famoso toda vida em um segundo.
Eu realmente não posso te ajudar em muitas coisas sabe.
Afinal minhas pernas estão amarradas e vou demorar aqui.
Se você pensou em se jogar da ponte, vá fundo, não há como detê-la.
Tomar diversos tipos de bebidas foi o mais perto da morte que já estive.
Sei que nossas vidas estão indo cada uma para um rumo.
Mas como você disse: “Nossas vidas hão de se encontrar”.
Posso ver que não chegamos muito longe, mas e daí, eu não mais me importo.
Acho que as coisas estão bem agora. Sempre estiveram.
As coisas funcionam muito bem quando os nós estão todos desatados.
A vida segue seu curso e a corda não me incomoda mais.
Como achará os rumos da sua vida sendo assim tão artificial?
Vivamos a vida, e que tudo se dane.
E assim seguindo os seus passos eu consolido os meus.
– Sim, pode me ligar amanha. Eu estarei esperando.
Acho que te seguirei sim. Por onde você for.
Mas não vá tão longe, pois minha preguiça é grande e posso me cansar.

Rodolfo Morais

Todo Carnaval Tem Seu Fim – Los Hermanos
Composição: Marcelo Camelo

Todo dia um ninguém josé acorda já deitado
Todo dia ainda de pé o zé dorme acordado
Todo dia o dia não quer raiar o sol do dia
Toda trilha é andada com a fé de quem crê no ditado
De que o dia insiste em nascer
Mas o dia insiste em nascer
Pra ver deitar o novo

Toda rosa é rosa porque assim ela é chamada
Toda Bossa é nova e você não liga se é usada
Todo o carnaval tem seu fim
Todo o carnaval tem seu fim
E é o fim, e é o fim

Deixa eu brincar de ser feliz,
Deixa eu pintar o meu nariz

Toda banda tem um tarol, quem sabe eu não toco
Todo samba tem um refrão pra levantar o bloco
Toda escolha é feita por quem acorda já deitado
Toda folha elege um alguém que mora logo ao lado
E pinta o estandarte de azul
E põe suas estrelas no azul
Pra que mudar?

Deixa eu brincar de ser feliz,
Deixa eu pintar o meu nariz

Eu não sei

Publicado: 16/02/2010 por rodoxcaos em Poesia
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Eu a vejo tão perto, tão perto estou e vejo
Vejo… O quanto vai crescer e quando vai morrer.
Já não tenho pra onde correr
Já sei mais o que vou fazer
A estrada é tão longa, tão opressora
Tenho preguiça em percorrê-la
Não pretendo mais sabotar a vida
Ela corre em minha direção e eu fujo sem compromisso
Não espero que ela me atenda, nem mesmo que me defenda
Estou correndo rumo ao fim
Ele corre diante de mim
E cá estou para esperá-lo, sem noção do que fazer
O caminho nada virtuoso, falso herói é o que estou sendo.
Sem desafios nem promessas, nem dragões, nem odisséias.
Meu cavalo não está selado, meu tapete bem tecido.
A cada noite desfaço uma linha, enfrento viúvas e seus monstros
Numa ilha paramentada com crânios e promessas
E eu… Não sei…
Eu… Não sei…
Ao meu lado está a Vênus com suas linhas e sem suas vestes.
Controlando cada momento de insanidade e prece.
Como tê-la esperando?
Algo aqui está fedendo, sem minhas ilhas de vivência
Não espero mais clemência e dissolvo os seus livros
Em consumo excessivo.
Estou chegando do outro lado da rua
Grandes valas de esgoto, portas e encomendas.
Eu… não sei…
Eu não sei…
Eu não sei.

Rodolfo Morais

Lívido

Publicado: 16/02/2010 por JEFF em Poesia

Você é apenas uma palavra distante
entre armadilhas montadas por imagens despercebidas
estamos longe de sermos algo voraz
a desilusão ou outro sentimento qualquer como escudeiro
e o determinismo se mostrando como um fiel amigo
um hóspede maldito
contando as horas insensatas

Cantos esquálidos
esquálidos destinos
o sangue corre
alguém limpa
a vida continua para os fracos
a sujeira espera pelos limpos
como gritos
ecoando cadeias inteiras de revoluções inacabadas

Outro dia notável para ser esquecido
Eu vou continuar
sei que vou continuar
sempre…
perdendo um pouco de cor a cada dia…

JEFERSON

Sábado, 13, uma e vinte e um

Publicado: 16/02/2010 por JEFF em Poesia

Lidando superficialmente
com um emaranhado de impressões distorcidas
Somos senhores do nosso tempo
esquecemos as coisas com facilidade
O brinde que hoje fizermos
nunca mais terá a impregnância de sentidos de outrora
Pessoas faltam, pessoas vão…
Não sabemos lidar com isso
Nos exibindo como ratos
roendo, sem saber,
as bases de um indigna e ilusória felicidade

Não posso justificar porque sou indiferente
Perdi muito tempo acompanhando o que não acredito
o que temos nunca foi o bastante
Não posso definir a perpendicularidade das linhas à trajetória que escolhemos
Alguém, deveria…
mas não está mais entre nós
passam das três
e eu só recebi a notícia agora
havia tanto a ser refeito e agora eternizado incorrigível
tanta distância a ser considerada
que Você não está mais aqui
e eu nem consigo entender
porque permaneço acordado
…ou por que sinto tanta falta de sentir…

JEFERSON

Sentido

Publicado: 16/02/2010 por JEFF em Poesia

Olhando as imperfeições da parede
os descascados do teto
os ponteiros do relógio seguem inerentemente suas órbitas
emitindo seus impiedosos sons dilacerantes
incitando a triste vontade de escrever sobre a tristeza
as horas avançando para a situação derradeira
restos de produtos industrializados sobre a pia da cozinha
a falta de destreza para lidar com a morte
a mudança de planos
a ausência de sentimentos apropriados
a nova cria de ratos se movendo pela casa
as frestas das portas
as lacunas da vida
as imperfeições dos anos
o silêncio forçado dos Anjos
a confissão forjada dos inocentes
o sono começa a chegar
um carro e uma bicicleta passam do outro lado da rua
e ainda não encontrei algum sentido lírico ou poético nisto tudo

JEFERSON

Júbilo

Publicado: 14/02/2010 por JEFF em Poesia

Eu via a face da cidade
cospi em suas construções inúteis
eu cavei seu olhos
dilacerei suas intenções vazias
bebi meu wiskey em seu cálice
depois joguei fora
simplesmente não respeito estas convenções ridículas
você não sabe
mas a jovialidade se esconde nas bebidas certas,
nas músicas irreverentes, no som alto, no desejo de ir além
você não sabe o que é olhar para o copo
e contar os anos,
você não sabe o que é ter visto eles queimarem
por isso vi sua cara de horror
e estranhamento quando desprezei a cidade
esse estilo de vida na superfície
de um sistema deplorável de apodrecimento coletivo
eu sei o que você queria
você queria apenas estar confortavelmente mantendo este sistema
manter seu mundinho perfeito
mas no fundo você sabe que…
as coisas
elas não funcionam assim
…uma hora você vai ter que acordar…

JEFERSON

Tá-hi (Pra Você Gostar De Mim)
Roberta Sá
Composição: Joubert de Carvalho

Tahí
Eu fiz tudo pra você gostar de mim
Ó, meu bem
Não faz assim comigo, não
Você tem
Você tem
Que me dar seu coração

Meu amor, não posso esquecer…
Se dá alegria, faz também sofrer
A minha vida foi sempre assim
Só chorando as mágoas que não tem fim

Essa história de gostar de alguém
Já é mania que as pessoas têm
Se me ajudasse nosso senhor
Eu não pensaria mais no amor

Santo Samba
Pedro Luís & A Parede
Composição: Pedro luis

Parei pra pensar um pouco
Quão louco que está o mundo
Do jeito que as coisas andam
Um dia ainda largo tudo

Os Santos estão pirando
Não dão conta da demanda
Se eles sartam de banda
Nos resta seguir cantando

Deixo as mágoas para trás
Deixo tudo que não presta
Desligo os problemas
E chamo os amigos pra fazer a festa

Vou cuidar de sambar
Vou cantar pra valer
O samba é um santo remédio
Pra quem quer viver

Versão ao vivo

Versão original

Toda vez que eu dou um passo o mundo sai do lugar
Siba e Fuloresta

Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar

Eu vivo no mundo com medo, do mundo me atropelar
(Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar)

E o mundo por ser redondo, tem por destino embolar
(Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar)

Desde quando o mundo é mundo, nunca pensou de parar
(Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar)

E tem hora que até me canso de ver o mundo rodar
(Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar)

Quando eu vou dormir eu rezo pro mundo me acalentar
(Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar)

De manhã escuto o mundo gritando pra me acordar
(Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar)

Ouço o mundo me dizendo: -Corra pra me acompanhar!
(Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar)

Se eu correr e ir atrás do mundo vou gastar meu calcanhar
(Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar)

(Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar)

Eu procurei o fim do mundo porém não pude alcançar
(Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar)

Também não vivo pensando de ver o mundo acabar
(Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar)

Nem vou gastar meu juízo querendo o mundo explicar
(Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar)

E quando um deixa o mundo tem trinta querendo entrar
(Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar)

Sexo, garotas, bebidas e cobertor

Publicado: 13/02/2010 por JEFF em Contos

Estava eu, soturno, à meia luz, com minha barba por fazer, desleixado como sempre, sentado com meu wiskey solitário e despojado em uma mesa de um bar (não em um balcão como de costume) ao som de “Riders on the storm” quando aconteceu. Ela chegou em um “Mustang, Shelby, 1965”, vermelho, duas faixas brancas e um adesivo na lateral: “Death on the Road”. Com o pé abriu a porta, entrou no recinto, parou, olhou sondando o ambiente. Ela veio andando como quem sabia exatamente o que queria, a cada passo dominava ainda mais o ambiente. Todos os olhares, toda a atenção, todos no recinto acompanhavam a movimentação da garota e ela sabia… definitivamente, ela sabia o que estava fazendo.
Caminhou, veio em minha direção, pegou meu copo sobre a mesa, deu um gole no meu wiskey e disse: eu quero você! Respirei fundo, mantendo-me calmo e disse: não importa o que você quer, o que faz ou quem você é… nunca mais toque no meu wiskey. O bar parou, todas as atenções estavam voltadas para minha mesa. Ela projetou a perna pra frente, colocou o salto alto de seu sapato no assento da cadeira, entre minhas pernas, bem próximo de onde nenhum sapato deveria estar. Com a cinta-liga e muito mais coisa à mostra, curvou-se apontando o dedo na minha cara e disse: eu sou Roxanne, e o que eu faço?! Eu devoro homens, isto é o que eu faço – dando ênfase como se fosse fazer alguma coisa violenta – e quero você! Eu vou te devorar… Eu vou te devorar inteiro! Eu a disse: Hey, Roxy! Não prometa o que não pode cumprir, garota! Não é muito saudável nem inteligente insultar um homem com barba por fazer tomando seu wiskey em um bar, ainda mais em dia que ele não está sentado no balcão…
Todos acompanhavam a conversa e um homem se aproximou da gente – se ele não quiser, você pode me devorar, à vontade… pode me consumir todinho – disse ele se achando o maioral e ouviu uma indiferente, impiedosa e seca intimidação: não se intrometa; se tiver amor à sua vida, saia daqui! Embora não conhecessem a misteriosa mulher, de alguma forma, todos no recinto sabiam que a ameaça era verdadeira. Verdadeira demais para que qualquer um hesitasse ou arriscasse a conferir. O homem saiu em disparada, esbarrou em algumas mesas, derrubou cadeiras, caiu no chão. Levantou-se ligeiro e saiu do bar. O Clima ficou tenso. Algumas pessoas saíram do bar. Ninguém sabia o que fazer. As pessoas das mesas mais distantes comentavam como se não acreditassem no que estava acontecendo. Talvez quem tenha ficado o tenha feito por curiosidade. Para verem qual seria o desfecho da situação.
As pessoas se levantaram e à estas alturas o bar inteiro estava em volta da minha mesa. Fiz um sinal para o barman ir olhar a jukebox, já que eu tinha colocado algumas moedas nela e queria ver minhas músicas escolhidas tocarem.
Então você quer esquentar as coisas… disse a ela que emendou: talvez, o que te deixa quente? Sexo, garotas, bebidas e cobertor, respondi sem pestanejar. Então, já que a bebida você já tem, posso lhe arrumar as outras três… Duas, – retruquei – não faço questão do cobertor. Vai de brinde, disse rápida e rasteira olhando fundo nos meus olhos com cara de quem realmente iria me possuir.
Era realmente um problema na máquina, o barman resolveu e “Cocaine” começou a tocar…
De qual você gosta mais: “Galaxy” ou “Alfa Romeo Spider 79”? – Disse esperando uma resposta certeira; e teve… prefiro “Mustangs”; respondi, espertamente, após uma pequena pausa. É mesmo?! Eu tenho um… e pode ser seu! Basta entrar no nosso joguinho, dar uma volta comigo, minha amiga Betsy e mais algumas amigas que estão lá fora. Basta dar conta da gente. As amigas dela estavam escoradas no carro próximo à entrada do bar.
Olhei para o batom vermelho dela, para os pequenos rasgados na cinta-liga e para a perna dela na minha frente, olhei para os corpos esculturais de suas comparsas, todas “vestidas para matar” e sem hesitar, o mais canastrão que poderia, disse: “Mustang Shelby 65?” Vamos jogar, baby! Ela disse: Sexo, garotas, bebidas e cobertor? Sexo, garotas, bebidas e cobertor – concordei prontamente. Ela fez um sinal para sairmos do bar. “The thrill is gone” ainda ia tocar, mas a estas alturas não fazia mais diferença, eu não iria ouvi-la.
Espere! – Falei pra ela – eu entro no seu jogo com uma condição: não me deixe faltar wiskey. Feito! Concordou prontamente. Eu não deixaria faltar um bom wiskey, pegue uma garrafa de “Jhonnie, Blue Label” e vamos. E eu disse: sim, garota… 21 anos é sempre uma boa pedida… Separe duas – pedi para o barman. Duas! Disse ela, impressionada. É mesmo um cara durão… isto vai ser interessante.
Fomos para o carro, fiquei prensado entre as amigas dela, ela me mostrou uma fita cassete original do MotorHead e eu disse: bom… bom mesmo, muito bom, garota… bastante apropriado. Após algumas músicas a indaguei: o Motorhead é bom, mas se o carro vai ser meu, vamos começar a introduzir minhas regras. Tirei do bolso uma fita cassete que tinha gravado na semana anterior e coloquei no toca-fitas. “She’s got balls” estava perto do fim, assim que ela acabou “You shook me all night long” começou a tocar e eu fiquei me perguntando se a coincidência significava alguma coisa. Talvez um sinal de onde iria essa coisa toda. Ela disse que queria charutos e eu disse com todo o sarcasmo que a situação permitia: não precisa, já tenho o que você vai fumar bem aqui e você vai fazer isto direitinho. Com o carro em movimento ela trocou de lugar com a amiga e agora eu estava entre ela e a Betsy. Roxanne era quente, ela sabia como fazer, era muito boa… era a melhor, mas eu não podia ceder, então a disse: Hey Roxy, faça o seu melhor, dê-me fogo! Uma provocação perigosa, mas a coisa realmente esquentou. Elas se moviam rápido, mas eu me mantinha firme ali. Ela se surpreendeu; Betsy e as outras amigas também… Talvez tenham subestimado um cara com uma barba por fazer tomando sua bebida em um bar. Elas não sabiam que era um genuíno wiskey escocês e que a barba por fazer era opção. Elas não sabiam onde haviam se metido e a coisa fervia. Elas viravam a garrafa de wiskey em minha boca e derramavam no em seus corpos enquanto fazia o serviço. Eu tomava tudo, inclusive o derramado nos corpos delas. Elas iam se revezando na direção. Fazia parte do jogo, o carro não podia parar.
Depois de algumas horas elas estavam dormindo amontoadas nos bancos e eu estava dirigindo. Algumas estavam embrulhadas no cobertor. Eu ia rápido, nem sei por que, mas eu acelerava mais e mais… Roxanne acordou, pouco depois foi a vez de Betsy, as outras ainda dormiam. Roxy passou para o meu lado, beijou meu pescoço, colocou a cabeça no meu ombro, apontou para o chaveiro em formato de caveira e sem arrepender afirmou: Sexo, garotas, bebidas e cobertor… o Mustang é seu. Ainda não… ainda não acabou – retruquei-a – não vim pelo carro, vim pelas garotas, pelo wiskey e pela diversão… Vocês queriam emoção, não queriam?! Então acharam que poderiam simplesmente entrar em um bar e provocar um cara ouvindo “The Doors” junto com seu “Jhonnie”? …Nunca se provoca um cara tomando um wiskey num bar. O jogo não acabou, só acaba quando eu disser que terminou. Agora a situação se invertia. Elas estavam no meu jogo e eu não ia parar. Já tinha ouvido várias fitas dela até que coloquei novamente a minha. “It’s long way to the top (If you wanna rock ‘n’ roll)” acabou e “Highway to hell” começou a tocar. Achei irônico ouvi-las nesta situação e na estrada, mas não houve muito tempo para pensar, já que o jogo tinha começado novamente. Era impressionante, mas eu ainda tinha fôlego e mostrei a elas, mostrei direitinho… Elas se comportaram como eu esperava e a coisa ferveu novamente. Sempre com o pé no acelerador. Sempre com o vento no rosto e aumentando a velocidade mais e mais. Sabíamos que não voltaríamos e assim foi… O carro caiu de um penhasco – deu nos jornais. Algumas pessoas que estavam no bar naquela noite reconheceram, admirados, os rostos na televisão e aquele cara que foi intimidado pela misteriosa mulher, quando perguntado, disse que não sabia ao certo sobre o que se tratava e por que aconteceu, mas que aquilo foi uma estória sobre um “Mustang Shelby 65” com um adesivo “Death on the road”, um homem com um wiskey no bar, uma garota quente e uma proposta de “sexo, garotas, bebidas e cobertor”…

JEFERSON

Composição: Música: Luiz Bonfá – Letra: Antonio Maria

Manhã, tão bonita manhã
Na vida, uma nova canção
Cantando só teus olhos
Teu riso, tuas mãos
Pois há de haver um dia
Em que virás
Das cordas do meu violão
Que só teu amor procurou
Vem uma voz
Falar dos beijos perdidos
Nos lábios teus
Canta o meu coração
Alegria voltou
Tão feliz a manhã
Deste amor

Mais sobre Luiz Bonfá: http://pt.wikipedia.org/wiki/Luiz_Bonfá

Mais sobre Nara Leão: http://pt.wikipedia.org/wiki/Nara_Leão

Ergam os copos senhores
Estamos verdadeiramente vivos
Deixamos os fracos mortos na lama
Estamos vivos e com sangue nas mãos
Eles pediram clemência
e nós matamos sem piedade
Ergam seus copos de wiskey
Agora estamos de volta
Tragam as melhores mulheres da cidade
Nós merecemos
Dividam os espólios de nossos inimigos
Vencemos a guerra
Nossos olhos estão tristes
Nossos sonhos despedaçados
Mas agora a liberdade bate a nossa porta
Éla é linda, seu corpo é perfeito
Seus olhos verdes, sempre miram o céu
Azul ele se desmancha sobre nós
Enquanto loiras e morenas dançam
Como as folhas leves do outono
O destino pelo menos uma vez olhou para nós
Somos os dias futuros, somos azuis
Somos peixes e ladrões perdidos
Bebamos senhores
Já me sinto alto, estou vendo Deus
Meu corpo dança, meus pés não param
Os anjos me carregam, estou novo
Como olhar das primeiras meretrizes
Como sangue de uma ferida nova
Agora nós vemos o mundo novamente
Agora ele é agradável
Como o primeiro gole de wiskey

Luiz Vieira

Quem eles pensam que são?

Publicado: 12/02/2010 por JEFF em Poesia

Quem eles pensam que são?
Andando a estas horas pela cidade
ouvindo rock ‘n’ roll despojado e escroto
sem se preocuparem com o dia seguinte
Quem eles pensam que são?
Tomando todas
fabricando seus próprios assuntos
impacientes com convicções adormecidas
Quem são eles?
Aumentando a velocidade
abrindo o vidro para o vento entrar
frequentando lugares escusos com trajes inapropriados
“Peraí!” Quem eles pensam que são?
Migrando de bar em bar
movendo-se pela cidade
arriscando, aumentando o som
desafiando os dias
vencendo as noites
começando o ciclo novamente
Invertendo a lógica das coisas…
Quem eles pensam que são?!
Hey! Não podem fazer isto!
Quem são eles?
O que eles acham que estão fazendo?
Quem eles pensam que são?

JEFERSON

Piada sem graça

Publicado: 11/02/2010 por JEFF em Poesia

Não é mais tão engraçado
quando o resultado,
por mais enloquente que for,
vai ter levar pra longe…

JEFERSON

Ainda mais profundo

Publicado: 10/02/2010 por JEFF em Poesia

Não que eu não queira me mostrar afável
ou dizer que estou tentando vencer o tempo
apenas sei o quão descorados são as pretensões
destes dias supérfluos
não sei a trajetória apropriada de suas decisões
nem como se move os mecanismos de seu afeto
como irei compor novas ilusões disfarçadas de sonhos inexatos…

Sobreviveremos
seremos levados pela falta de ar
mas quando o dia acabar estaremos aqui
pronto a navegar rumo a desilusões mais profundas
e nos perdermos no jogo novamente…

JEFERSON

Aqui estão as almas oferecidas
Todas as almas dos meus amigos que vendi
Numa noite fria e febril
As despachei em vários navios mercantes
Rumo a uma terra onde os mortos habitam.
Onde nem mesmo os mais fortes agüentam.
Pelos mares da dor e o caos navegaram
Tendo sempre uma sombra ao lado
Sem saber quem lhes vigiava
O mais fraco começou a ceder.
Não tente ir contra a maré
A dor vai permanecer, perto do mar do desencanto
Toda desgraça há de acontecer.
Bem perto dos olhos piedosos, de algum supremo ser.
Que vigia bem de perto e guarda as fontes de infinito saber.
E aqui se fez presente a falsa redenção.
Onde almas impuras entregues por uma pior
Confraternizam-se numa távola caótica
Regada a desordem e vinho. Com pitadas ácidas e mordazes e orgulho
Neste baile de desavenças o preconceito impera e a ordem não tem campo.
E aqui se faz a confraria e todos voltam a ser
Os mesmos amigos de outrora, apesar das almas vendidas
Alguns riem, pois já não a nada mais a fazer.
Abracem o caos, entreguem-se a destruição.

Rodolfo Morais

Os tiras estão no pedaço

Publicado: 07/02/2010 por rodoxcaos em Poesia

O som do carro soa a menos de dois metros do portão
Neste momento somente risos, bebidas e conversas.
Em um rápido instante, toda corja aparece.
Descem pensando que estão em alguma espécie de seriado americano.
Aquele policial negro é quem se acha o melhor.
– Abaixa o som e mãos na parede.
Somente ele quer insultar e arrumar confusão
Afinal ele é um policial.
Achando-se o McCalister, achando-se em C.O.P.S.
Em um número de seis o negro quer aparecer.
Com todas as mãos nas paredes e os olhares para o muro
Eles se reúnem em volta dos “indicados” com as armas cuspindo munição.
Algemas à mostra e muita pressão.
Começava ali a grande piada da noite.
Tão banal e cômica é a situação. Muitos risos.
Nada além de celular, chaves e pênis.
Foi tudo em que eles tocaram naquela noite.
O celular toca, o cavalo passa na rua e a piada está completa
Mais uma vez o tiras chegaram na parada, chegaram no pedaço.
– Ei Tiras, vocês mandaram abaixar o som bem enquanto tocava um blues?
Chega de som, chega de festa, os tiras estão no pedaço.
Então vamos nessa galera!
Os tiras estão no pedaço.

Rodolfo Morais

O Enterro e a Aliança

Publicado: 07/02/2010 por JEFF em Poesia

Todos estavam à postos
com feições marcadas pelo acontecido
e guarda-chuvas preparados
no entanto, o mantiveram fechados
foi um dia cinza, triste, mas não choveu…
o vento trazia uma tristeza incomum,
insuportável para quem respirava o ar da situação
Um observava
o outro só conseguia pensar em se vingar
Ela chorava copiosamente
a outra não compreendia as maldades do mundo
não queriam acreditar
mesmo assim o caixão irrompia solenemente o ambiente
metade das pessoas não conheciam bem o homem que estava dentro
quase metade das pessoas não sabiam direito o que havia acontecido
mas havia quem soubesse,
quem não se continha em lágrimas
quem queria se vingar mais que tudo
distante, como se não estivesse com os outros
está ele com a lembrança das últimas palavras
e visão do que estava por acontecer
eles passaram por cima de suas diferenças
se juntarão e não vão deixar barato.
Eles irão procurar e destruir…
hoje foi um dia cinza e triste,
mas, muito mais dor
e nuvens ainda mais negras estão por vir
hoje o enterro…
amanhã muito sangue vai jorrar!

JEFERSON

Tenho oscilado entre o desejo de estar
e um presente ausente
é realmente tarde, eu sei
mas só agora percebi
a vontade irreparável de ter você

JEFERSON

Triste

Publicado: 05/02/2010 por JEFF em Poesia

Escuro
apanho as palavras do chão
e componho sua mais valorosa canção de sofrimento
desdobro esse jogo
fazendo vítimas os desejos prováveis
e deixando novas marcas pelo corpo
Estou cansado,
mas nunca pararemos com isso
então a opção mais plausível talvez seja continuar
o ciclo nunca acaba
o sangue escorre pelo chão do quarto
mas não é suficiente
…nunca é suficiente…
Acho que teremos que fechar as portas
e construir novas desilusões este fim de noite…

JEFERSON

Indo… (Mais ou menos…)

Publicado: 04/02/2010 por JEFF em Poesia

não havia nada
tínhamos vivido bem até agora
mas isso nunca quis dizer muita coisa

JEFERSON

Cântico negro

José Régio


“Vem por aqui” — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: “vem por aqui!”
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali…
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos…
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: “vem por aqui!”?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí…
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?…
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos…

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios…
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios…
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: “vem por aqui”!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou…
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

José Régiopseudônimo literário de José Maria dos Reis Pereira, nasceu em Vila do Conde em 1901. Licenciado em Letras em Coimbra, ensinou durante mais de 30 anos no Liceu de Portalegre. Foi um dos fundadores da revista “Presença”, e o seu principal animador. Romancista, dramaturgo, ensaísta e crítico, foi, no entanto, como poeta. que primeiramente se impôs e a mais larga audiência depois atingiu. Com o livro de estréia — “Poemas de Deus e do Diabo” (1925) — apresentou quase todo o elenco dos temas que viria a desenvolver nas obras posteriores: os conflitos entre Deus e o Homem, o espírito e a carne, o indivíduo e a sociedade, a consciência da frustração de todo o amor humano, o orgulhoso recurso à solidão, a problemática da sinceridade e do logro perante os outros e perante a si mesmos.

A cidade das meias culpas

Publicado: 02/02/2010 por JEFF em Poesia

Florescendo novos sonhos
construindo novas ilusões
novas oportunidades caem do céu como chuva rala
nos chamando de volta aos presságios de outrora
novos ângulos para velhas deficiências
novas dificuldades para as mesmas ausências
esta noite tem sempre a chance de ser a melhor de todas
então ela vai acabar
nos obrigando a refazermos os ciclos diários
e criarmos nossos leques de opções

Os idiotas se juntam à beira de seus bares chiques
eles se orgulham de perecerem bem
naqueles lugares, todos construídos sobre o esgoto
eles se juntam em suas tribos, há várias delas
nenhuma é boa o suficiente para a gente
pois elas celebram o advento do Bravo Novo Mundo
o mundo se desfazendo de quarteirão em quarteirão
enquanto damos um último giro pela cidade
só pra ver até aonde podemos ir,
só pra ver o que acontece…

JEFERSON

Apenas faça isso

Publicado: 01/02/2010 por JEFF em Imagem/poesias visuais