Arquivo de julho, 2009

Casualidade

Publicado: 30/07/2009 por JEFF em Poesia

Insensato e indiscutível destino

Apenas uma brincadeira e a bola cai na linha de trem

um pé se engancha nos trilhos, um trem vem, uma vida se vai

A bola sobreviveu cheia

a menina de quatro anos não

em algumas noites de inverno quase consigo a ouvir chorar

tentando alcançar o interminável de uma vida inteira

e a brevidade de uma última história

Não olhe pra mim, também sobrevivi,

mas não sou Eu quem decide as coisas por aqui…

JEFERSON

Preparai-vos!

Publicado: 29/07/2009 por JEFF em Poesia

Preparem-se!
Orai e vigiai porque não sabemos como virá…
indiscreta ou cautelosamente
a qualquer momento,
qualquer hora do dia ou da noite poderá chegar
aquilo que você espera: o chamado do bar!

JEFERSON

Tenho uma estranha sensação
De que tudo que estamos vivendo já aconteceu.
Ou minha percepção está alterada
Ou os acontecimentos do mundo são cíclicos
E tudo que era, sempre foi e sempre será
Nessa esfera de acontecimentos, todos são idênticos

Da janela observo a pequena sacolinha
Solta no ar…
Jogada de um lado para o outro.
Sem compromisso, sem rumo. Seguindo o vento
Por ele sendo levada…
Leve. Voando solo. Planando…

Breves instantes da vida que são compostos dessa forma.
A linha que nos aparta. A adaga encravada.
Olhos brilhantes e lacrimejantes
É incrível, mas eles não se distraem por nenhum momento
Posso vê-la querer ir cada vez mais adiante.
E nunca querer sair do lugar.

Rodolfo Morais

Ilimitado

Publicado: 29/07/2009 por JEFF em Poesia

Vagando
paisagens distorcem a impureza dos dias
tudo passa rápido em direção contrária, mas não importa
animais pessoas lugares clima vento tempo
aventura pureza diversão paisagens água espaço pescoço bagagens
vago
viajo
não volto…
o tempo nunca vai caber num relógio
…o tempo é infinito…

JEFERSON

Olá Pessoal

O Grupo Teatro do Caos está disponibilizando dois E-Books Gratuitos do Grande Poeta Português Fernando Pessoa. Baixem a Vontade. Enquanto isso aproveite para ler nossas Poesias.

LIVRO DO DESASSOSSEGO

Em textos espalhados em papéis de todos os tipos, de folhas soltas a cadernos só recentemente juntados como obra integral, o poeta Fernando Pessoa produz a comovente autobiografia do guarda-livros Bernardo Soares, morador de Lisboa. Um livro marcado pela poesia profunda de Fernando Pessoal. Vale a pena Ler.

Pequeno Trecho:

“O relógio que está lá para trás, na casa deserta, porque
todos dormem, deixa cair lentamente o quádruplo som claro
das quatro horas de quando é noite. Não dormi ainda, nem
espero dormir. Sem que nada me detenha a atenção, e assim
não durma, ou me pese no corpo, e por isso não sossegue,
jazo na sombra, que o luar vago dos candeeiros da rua torna
ainda mais desacompanhada, o silêncio amortecido do meu
corpo estranho. Nem sei pensar, do sono que tenho; nem sei
sentir, do sono que não consigo ter.
Tudo em meu torno é o universo nu, abstrato, feito
de negações noturnas. Divido-me em cansado e inquieto, e
chego a tocar com a sensação do corpo um conhecimento
metafísico do mistério das coisas. Por vezes amolece-se-me a
alma,e então os pormenores sem forma da vida quotidiana
bóiam-se-me à superfície da consciência, e estou fazendo lançamentos
à tona de não poder dormir. Outras vezes, acordo
de dentro do meio-sono em que estagnei, e imagens vagas,
de um colorido poético e involuntário, deixam escorrer pela
minha desatenção o seu espetáculo sem ruídos. Não tenho os
olhos inteiramente cerrados. Orla-me a vista frouxa uma luz
que vem de longe; são os candeeiros públicos acesos lá em
baixo, nos confins abandonados da rua.”

CLIQUE AQUI para baixar o livro completo.

O GUARDADOR DE REBANHOS

O Guardador de Rebanhos é um conjunto de poemas (49 no total) escritos pelo heterônimo Alberto Caeiro de Fernando Pessoa. Os poemas foram escritos em 1914 e Fernando Pessoa atribiu sua gênses a uma única noite de insônia de Caeiro. Foram publicados em 1925 nas 4ª e 5ª edições da revista Athena, com exceção do 8º poema do conjunto que só viria a ser publicado em 1931, na revista Presença.

Pequeno Trecho:

“O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás…
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem…
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras…
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo…
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo.Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender …
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…”

CLIQUE AQUI para baixar o livro completo.

Obs: Os Ebooks acima não ferem nenhuma lei de propriedade intelectual, portanto você pode baixar e distribuir para quem quiser.

Não esqueça de comentar

Ramoneando

Publicado: 28/07/2009 por rodoxcaos em Poesia

Tanto abissal
Nenhum pouco colossal
Frases bem armadas no papel
O grande texto a se completar
Destino puro. Gosto de sangue
E ainda quero gritar
Hey ho, Lets go!

Rodolfo Morais

.
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.
.
:…
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? . .?! ! ; ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! … !!!!!!!!!!!!!

JEFERSON

Confira também:

Diálogo 1 (Cena curta 1: Momento dramático perto do fim do terceiro ato)

Diálogo 2 (Cena curta 3: Após grande fervor o quase apaziguamento)

Diálogo 4 (Cena curta 2: Após uma pequena dramaticidade a coisa descamba para a instabilidade)

Singular (ou Na natureza selvagem)

Publicado: 26/07/2009 por JEFF em Poesia

Esqueceu a mochila no banco do passageiro
saiu sem saber direito pra onde ir
o mundo comprime suas aptidões
e o cerca com as mesmas coisas de sempre
o espaço, o tempo
está acabando, sabemos disso
apesar da multidão a cidade está sempre deserta
não há em quem confiar
no mundo não encontra o seu lugar
não sabe se vai, mas não tem porque ficar
esqueceu de dizer adeus
esqueceu de dizer umas verdades
é tempo demais, não tem tempo pra nada
anda apressado, não tem tantas mulheres como acha que mereceria
as coisas giram rápido, alguém uma hora vai ficar tonto com isso
se acha infeliz e que ninguém é tão injustiçado por tudo como você
sabe que tudo está marchando rumo ao fim
vai ser assombrador, mas não quer evitar
vai desintegrar-se em propostas banais ou idéias evolucionárias que nunca serão aproveitadas
talvez consiga dormir à noite
ou permaneça mais uma vez acordado
sufocado pelo futuro que poderia mudar, mas não consegue…
Você não é o único

JEFERSON

O significado

Publicado: 25/07/2009 por JEFF em Poesia

Tentando desesperadamente

catar os passos deixados em algum lugar entre a noite e o alvorecer

Ela anda inexpressiva entre os dejetos das meias almas,

entre o que isto representa,

mas não sabe o que isto quer dizer, não sabe o que isto quer dizer

Desafogando as mentiras verdadeiras

dos infindáveis outonos dessa década desacertada

luzes projetando algo lacônico no chão

lixo interior irrompendo as janelas, o quarto, os quadros, a decoração das salas,

as ruas e tudo o que elas significam

serena, Ela continua… caminha

chega a quase acreditar que pode ver,

mas não sabe dizer o que isto significa, não sabe o que isto significa!

…E assim se passam os dias

uma nova coloração (ou falta dela) toma conta do ambiente

uma nova convicção forjada quase inadvertidamente

meias palavras, meias frases, sentidos incompletos

Ela desce as escadas

há muitos símbolos e um quase poder soberano ali

mas, Ela não sabe o que isto significa, não sabe o que isto significa

Ela não sabe o que isto quer dizer, tudo está partido em dois

está tudo muito visível neste instante

mas…

Ela não entende as metades, somente coisas inteiras…

JEFERSON

Circular 01

Publicado: 24/07/2009 por rodoxcaos em Imagem/poesias visuais

circular 01

Rodolfo Morais

Dúvida

Publicado: 23/07/2009 por JEFF em Poesia

Sob um peso terrível

Ela se inclina à virtude dos injustos e ao sublime

desmerecimento de um dia que deveria ser ensolarado, mas que quase não vimos o sol

…Tudo havia sido encoberto pelas nuvens do esquecimento…

Uma dúvida inquietante cerca-me neste momento insensato e não posso me conter, tenho que perguntar

Ela parece firme agora, mas até onde vai conseguir andar?

JEFERSON

Escolha

Publicado: 22/07/2009 por Luiz Vieira em Imagem/poesias visuais

Sobrevivência

Luiz Vieira

Contemplo

Publicado: 21/07/2009 por Luiz Vieira em Poesia, Produção "Teatro do Caos"

Apenas num momento
Cobriu a cama
Meus desejos desviados
O corpo dela silencioso e calado
Uma onda de chuva seca
Com seus escravos e servos
Cobriu minhas cortinas de seda
O silêncio, meus gritos e sussurros
O mundo cala as palavras mortas
Enterras os desejos sóbrios
E se alegra na vil esperança

Nós que restamos
Falamos pelos cotovelos
Mas ninguém pode ouvir
Abrimos fendas nos destinos humanos
Mas criaram aviões e pontes
Resta-nos um bom dia nublado
E os passos longiguos do fim dos tempos
Ora, meu cara amigo
Eu contemplo um novo começo

Luiz Vieira

Deixem o Lebowski em paz

Publicado: 20/07/2009 por rodoxcaos em Poesia

Caminhando pelo supermercado somente de roupão e chinelos
Não podemos nos esquecer dos seus óculos escuros
Olhando de prateleira em prateleira, sem nada escolher.
De repente algo lhe chama a atenção.
Uma caixa de leite roxa. Cheira e sorri. Talvez ele pensou: É essa.
A atendente loira o olha com cara de desprezo.
E ele a olha por cima dos óculos. Balança a cabeça levemente
Ela, mascando seu chiclete continua a olhar para ele.
Na TV George Bush esta falando qualquer bobagem.
Não o W. Bush, que também fala bobagens, mas sim o Bush pai.
E a atendente loira ainda continua a encará-lo, como a mesma cara de tonta.
Ele chega em casa correndo e passando pelo jardim. Pega a chave a abre a porta.
Casa escura, momento perfeito para agarrá-lo e empurrá-lo até o banheiro.
Enfiar sua cabeça na privada e tentar afogá-lo.
Esperem não faça isso.
Deixem esse cara em paz

Rodolfo

Depois da jornada, a volta

Publicado: 19/07/2009 por JEFF em Poesia

Não reconheço o caminho de volta para aquilo que eu chamava de lar
Não reconheço mais a vertigem das luzes intermitentes e cintilantes
Somos mais, não devíamos nos contentar só com isso
Pego carona num emaranhado de percepções descompassadas
pela janela vejo a inconstância de todos os movimentos
e a prática incorrigível dos ecos desnecessários
enquanto o carro irrompe soturnamente o ambiente
e carrega no banco de trás o desejo mais precioso
Não reconheço mais as glórias de outrora
se quisermos sobreviver teremos que ter novas
não consigo distinguir as cores ou a forma das coisas
nem o efeito delas sobre mim
não reconheço mais o caminho de volta para esse estranho lugar
que sempre vivi
e agora não consigo mais chamar de lar

JEFERON

Bolsa de viagem

Publicado: 18/07/2009 por JEFF em Poesia

Em laços braços
abraço
o arco da íris impenetrado
Fortuito apreensivo renegado
absurdo lírico revisitado
Uma roupa largada
a carta manjada
o lado obscuro
da mulher desejada
a carta lida
e a membrana dos olhos rasgada
a emoção do par
ou ímpar
a vida escorregadia
o pau duro
a alma limpa
tudo
nada disso
e o que mais alguém quiser carregar

…Sou eu quem faz minhas bagagens
Eu quem escolhe o que levar…

JEFERSON

Corre deslizante pelas escadas da opressão

Publicado: 17/07/2009 por rodoxcaos em Poesia

Corre deslizante pelas escadas da opressão
De longe se percebe que não há nenhuma trilha
Nem há destino.
Tudo o que temos são velhos traços ofuscados.
Esperança vã.
Ainda sim buscamos algum sinal de vida. Algum sinal.

Rodolfo Morais

Painel de velhas coisas ainda não esquecidas

Odiar, somente isso.

Publicado: 16/07/2009 por rodoxcaos em Poesia

Eu odeio essa gente. Por que ainda estou aqui?
Odeio esse monte de coisa a qual me cerco.
Deve ser alguma espécie de autoflagelo.
Odeio quase tudo que posso
E sobre aquilo que não posso odiar
Eu odeio não poder odiar aquilo que quero odiar.
Odiemo-nos irmãos, é a mensagem que vos deixo.
Assim não precisamos ser forçados a gostar de nada.
Muito menos seremos convenientes com tudo.
Sairemos do mar de imundices ao qual a cada dia nos afogamos
Lentamente.
Len ta men te.
Len…ta…men…te…
L e n t a m e n t e
L…e…n…t…a…m…e…n…t…e
L……
……e……
…………n……
………………t……
……………………a……
…………………………m……
………………………………e……
……………………………………n……
…………………………………………t……
………………………………………………e……

Rodolfo Morais

Momento

Publicado: 13/07/2009 por JEFF em Poesia

o dia
a morte
a hora
a sorte
a vida
a posse
o descorar
a tosse
a filha
à força
o fim
a forca
a corda
à toa
a coragem
a calma
a vida
a alma
o tempo
…só.

JEFERSON

Violetas vazias

Publicado: 12/07/2009 por JEFF em Poesia

A boca da noite vomita suas terríveis criaturas
que vagam
procurando novos seguidores,
novos membros para seu círculo maldito
armações patéticas,
rituais macabros e suas ridículas demandas
Não há muito mais a dizer do que isto
exceto,
que suas violetas vazias
já foram amputadas,
que a pedra a qual vocês pisam e se sustentam
é de plástico
e que essa intrépida ousadia
não vai durar até a próxima semana
mesmo assim… mesmo assim seus seguidores ficarão
sim, eles ficarão
é, as pessoas se acostumam com tudo
não é de surpreender que não liguem de terem de comer estrume
em todo café da manhã

JEFERSON

5 minutos pra qualquer hora

Publicado: 11/07/2009 por JEFF em Poesia

Algumas piscadas rápidas entre uma ação e outra
Estamos dispersos, eu sei
Me disseram, eu vi
Não me disseram, eu percebi
Já me perguntaram, respondi: sim
Estamos indo? Eu não…
Não tenho absolutamente nada que me possa ser tirado
nenhum sentido no agora
nenhuma placa obedecida neste vagar insensato das horas
comedido pela mais serena loucura que eu possa projetar esta noite
totalmente livre da incondicional falta de sutileza do tempo
ou dos devaneios acometidos pelos minutos que representam essa plenitude do agora

JEFERSON

V. de “O Guardador de rebanhos”

Publicado: 09/07/2009 por Luiz Vieira em Poesias

Há metafísica bastante em não pensar em nada.
O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.
Que ideia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).
O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.
Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?
«Constituição íntima das cousas»…
«Sentido íntimo do Universo»…
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.
Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.
O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.

Fernando Pessoa

Relógio

Publicado: 09/07/2009 por Luiz Vieira em Poesia


Ouvi os ponteiros do segundo
Lentamente e por definitivo destruir o passado
As horas estavam cansadas da vida
De uma vida incrivelmente normal
Ouvi os sons de meus medos
Eles foram deixados no mesmo lugar
Em um grande espaço vazio
Onde o passado descansa imóvel

Luiz Vieira

Aforismo 04 – Da caridade

Publicado: 08/07/2009 por rodoxcaos em Poesia

Os que praticam caridade não a fazem por bondade ou auteridade. A fazem de forma forçada para preenchimento do ego e para que os outros vejam e digam: “Nossa, como são caridosos”.

Rodolfo Morais

Luna

Publicado: 07/07/2009 por JEFF em Poesia

Espera!
Ouça até o final
Pule do penhasco!
Estivemos sempre nos intermináveis até agora…
Andamos em círculos a vida inteira,
mas agora é diferente…
Não há indecisão que vá te prender à Terra
nem qualquer reação que possa ser considerada tardia

Encha-se novamente, minguante
Vá e volte quantas vezes quiser
Fique aqui, repouse esta noite
se sacrifique por mim antes que amanheça
faça o que quiseres
Vá, pule! Não passe vontade…
Estará bem amanhã e pronta pra tudo novamente
nunca se cansa, nunca se rende
continua… sempre
Teu desígnio é morrer e renovar-se…

JEFERSON

Eu não me lembro
de ter visto o rolar da esfera de seus sentimentos vazios
Eu não me lembro de ter pedido um copo d’água,
uma sensação nova ou outra coisa pra rejuvenescer
nem de ter dito algo sobre seu inconsolável afeto
e como as coisas se processam nesta órbita desolada

Não somos iguais
somos outra coisa, talvez foguetes
voando em velocidade impressionante
mas perdidos confusos entre uma coisa e ela mesma
na doce ilusão construída durante a trajetória
ou no que vai se processar no invólucro dos comandos pedidos
ou perdidos

Tanto faz, há muito tempo estamos na inércia
Agora, tudo são apenas palavras… ao vento
é só uma questão de letras, não de sentido
dizem coisas maravilhosas sobre este planeta
Eu quase poderia dizer que valeria a pena o preenchimento,
mas estamos longe demais pra voltar…

JEFERSON

Aforismo 03 – Dos que ouvem “eu te amo”

Publicado: 05/07/2009 por rodoxcaos em Poesia

Aqueles que ouvem “eu te amo” se sentem protegidos. Mero engano. Eu te amo é apenas uma representação por meio de palavras de algo inexistente.

Rodolfo Morais

O Tucano da Goiabeira

Publicado: 04/07/2009 por Luiz Vieira em Contos

Levantou-se hoje um pouco mais triste que os dias passados. Não sabia bem o motivo, mas não se sentia bem consigo mesmo. Olhou a janela como se se procura algo pra culpar, ou uma imagem que lhe retomasse a vontade de viver. Calou-se como se cala a criança ao ser reprimida por um professor “linha grossa”. Viu na goiabeira um Tucano. Pelo que sabia não havia tucanos naquela região do país, e se havia nunca tinha passado pela sua frente, muito menos na sua janela. Bico longo e amarelo, uma mancha negra no final, uma mecha branca no peito e o resto da penas pretas. Olhou, olhou e esqueceu. Foi ao banheiro cumprir seu ritual matinal, vestiu-se e foi para o trabalho.

Esqueceu-se aos poucos da tristeza que havia lhe invadido o espírito naquela manhã. Atendia desesperado seus clientes, forjava um belo sorriso. – Bom Dia. – Seja bem Vindo. – Uma boa tarde para o senhor. – Volte sempre. Etc. Nos pequenos intervalos enquanto tomava água pensou que em muitos anos de vida nunca tinha visto um Tucano e que nunca se sentira tão encantado em frente a uma imagem. Começou a se culpar. Porque não olhei por mais tempo. Talvez chegasse atrasado, mas quantas vezes não chegara atrasado no trabalho por motivos bem mais fúteis. Devia ter prendido ele, para que ele ficasse em casa para sempre. Mas não tinha nenhuma gaiola. Conformou-se e voltou ao trabalho. Agradeceu em seu íntimo a bondade divina em conceder-lhe um momento tão especial.

Hora do almoço. Voltou pra casa. Abriu desesperado a porta, na esperança dele ainda estar repousando na goiabeira da janela. Não deu sorte, não havia nada mais. Resignou-se. Comprou comida. Pensou enquanto comia. Não é possível haver um bicho destes na minha janela, afinal não estamos na Amazônia, quem deixaria o coitado sair. Será que teria fugido? Será que o dono o procurava? Será que realmente era um Tucano? Será que não estava louco? Angustiado calou-se. Uma brisa leve tocou-lhe o rosto, o dia passava devagar. Ele voltou ao trabalho.

Luiz Vieira

Aforismo 02 – Dos que dizem: Eu te amo

Publicado: 03/07/2009 por rodoxcaos em Poesia

Aqueles que dizem “Eu te amo”, o dizem a si mesmos. Pois sempre esperam uma resposta recíproca.

Quatro e meia da manhã

Publicado: 02/07/2009 por JEFF em Poesia

Há algo encoberto pela fumaça do charuto que nunca fumei
Sou eu
e minha barba característica
Atônito por perceber
que as palavras que sempre achei serem minhas não têm dono
e nem as estórias… explicação
Quantas surpresas desagradáveis ainda terei antes do que está dentro do copo acabar?

JEFERSON

Aforismo 01 – Do Amor

Publicado: 01/07/2009 por rodoxcaos em Poesia

Não existe o amor.
Não busque em outra pessoa uma necessidade de atenção a qual você deseja.