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Mais uma vez

Publicado: 13/11/2015 por JEFF em Poesias

O tempo passa
temos o péssimo hábito de esquecer tudo rapidamente
era um dia comum
tinha vocação para ser diferente, mas não foi
e tudo aconteceu novamente
eu quebrei uma porção de promessas que nunca tinha feito
e tudo foi aos ares
…mais uma vez…

JEFERSON

Lento

Publicado: 02/03/2015 por rodoxcaos em Poesia, Poesias, Produção "Teatro do Caos"
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Hoje.

Um dia sombrio vem ao meu encontro

Percebo o dia, lento, dedicado, escuro.

Os ponteiros como âncoras

Firmes a segurar.

Rodolfo Morais

Possibilidades

Publicado: 17/11/2011 por Luiz Vieira em Poesias
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Hoje encontrei aquele velho amigo bêbado de novo
Nada de novidade, perdido, incontestavelmente : vivo
Dizia-me como não queria a passividade das maças verdes
Logo percebi seu anseio ambíguo pelo inatingível

Disse-me sobre as impossibilidades próprias da vida
Enquanto, eu insosso cantava meu copo de vinho
Revelava-me, o que é novo na vida – POSSIBILIDADES.
As coisas não estão presas nas suas mínimas necessidades

Melhor que minha alma errante ele determinava caminhos
Não os mesmos, mas os diferentes  – as cortinas fechadas
As impossibilidades que os reis escondiam

Luiz Vieira

Homenagem à Júlia Saori, que nascerá no próximo dia 23. Cheia de energia.

Julia – Beatles
Composição: Lennon/McCartney
Half of what I say is meaningless
But I say it just to reach you,
Julia
Julia, Julia, oceanchild, calls me
So I sing a song of love, Julia
Julia, seashell eyes, windy smile, calls me
So I sing a song of love, Julia
Her hair of floating sky is shimmering, glimmering,
In the sun
Julia, Julia, morning moon, touch me
So I sing a song of love, Julia
When I cannot sing my heart
I can only speak my mind, Julia
Julia, sleeping sand, silent cloud, touch me
So I sing a song of love, Julia
Hum hum hum…calls me
So I sing a song of love for Julia, Julia, Julia

Julia – Beatles (tradução)
Metade do que digo é sem sentido
Mas eu digo só para tocar você,
Julia
Julia, Julia, criança do oceano, me chama
Então eu canto uma canção de amor, Julia
Julia, olhos de concha, sorriso ventoso, me chama
Então eu canto uma canção de amor, Julia
Seus cabelos de céu flutuante estão ondulantes
Reluzindo no sol
Julia, Julia, lua do amanhecer, toque-me
Então eu canto uma canção de amor, Julia
Quando não consigo cantar o meu coração
Posso apenas expressar minha mente, Julia
Julia, areia sonolenta, nuvem silenciosa, toque-me
Então eu canto uma canção de amor, Julia
Hum hum hum… me chama
Então eu canto uma canção de amor para Julia.

Aproveite e leia: https://teatrodocaos.wordpress.com/2011/06/17/cheia-de-energia/#comment-285

O homem solitário cruzando o fim da linha

Publicado: 08/01/2011 por JEFF em Poesias

Caminho solitário pela tarde cinzenta
ouço vozes ao longe, muito longe
sigo o caminho amaldiçoado
meus sapatos gastos
o chamado sereno do fim dos dias
Nunca estive acomodado em algum lugar
mas agora a nevoeiro parece convidativo
o encontro do inusitado com o perdido
o chamado agora respondido
a sonata perfeita para dias desolados
Subo até o topo da montanha do vale da morte
fixo uma nova residência
os pensamentos são tão vorazes
quando não há ninguém para se enganar
ou quando estamos desprendidos de tudo
que quase não concebemos o quão infinitos podemos ser
ou a brevidade de todos os momentos eternos
Aceito o destino nefasto
Ando solitário em meio à névoa
um homem solitário, eu seu fim solitário
o passado não é mais necessário
a neblina toma conta dos dias
eu andei, por muito tempo,
preocupado com coisas supérfluas
agora… nada mais importa
cheguei ao fim do caminho
pronto pra cruzar a linha
e ir rumo ao infinito

JEFERSON

O Caos indica: Os Originais do Samba

Publicado: 02/10/2010 por rodoxcaos em Músicas, O caos Indica, Videos

Muito antes de ser o extraordinário humorista conhecido como Mussum, Antônio Carlos Bernardes Gomes (seu verdadeiro nome) fazia parte de um grupo de samba chamado Os Originais do Samba. Grupo de origem carioca formado na década de 60 e que tinha como um dos vocalistas ou interpretes se preferir o próprio Antonio Carlos.

Segue abaixo um vídeo, onde ele além de cantar, comenta um pouco sobre o grupo e também o de uma apresentação no programa Festival de Sucessos, no ano de 77.

Vale pela nostalgia de ver o saudoso “Mussum” em ação e também pela excelente qualidade do samba executado pelo grupo.

Rodolfo Morais

Soneto de fidelidade na voz do próprio autor, Vinicius de Moraes, acompanhado de Tom Jobim.

Foram os meus dedos contemplados
por poder acariciar tão belo e formoso corpo
por ter dedilhado as melodias sinceras
havia algo em tão bela e perfeita simetria que eu não sabia
os olhos receosos da grande sede da alma
não eram tão incuráveis quanto os lábios desejosos
tão sedentos de gostos desconhecidos
contato sincero
perfume exalado
meu olfato ficou cego
inerte tato tentando prolongar emoções
as palavras certas
ditas ao pé do ouvido
a mecânica do mundo dando uma pausa
se curvando à um instante despojado
um emaranhado de sentidos
tentando a singularidade
só possível em momentos únicos como este
eu estava vivendo o presente,
amanhecia…
e eu nunca sabia o que fazer com a lembrança do último gesto…

JEFERSON

(Ideal para dias em que se está sozinho(a) em casa e afim de curtir uma deprê com musica de qualidade)

(Cat Power e sua banda a Dirty Delta Blues executam essa música ao vivo no AOL Sessions)

Ramblin’ (Wo)Man
Cat Power

Well I love you baby
But you got to understand
When the Lord made me
He made a ramblin’ woman
He made me, he made me

Some folks
Some folks might say that I’m no good
That I wouldn’t settle down if I could
I love to see the towns go crawling by
There’s something I’ve got to do
Before I die

I love you baby
But you got to understand
When the Lord made me
He made a ramblin’ woman
He made me, he made me

Some people say
That I do just fine
Cause I hear sweet song
Moving down
And when that old southern train comes calling me
There’s something over the hill
I just got to see

Well I love you
I love you baby
But you’ve got to understand
When the Lord made me
He made me
He made a ramblin’ woman
He made me, he made me

Now when I’m gone
When I’m gone and at my grave you stand
Just say God’s called home your ramblin’ woman

I love you
I love you baby
But you’ve got to understand
He made a ramblin’ woman
He made me

(Ideal para dias em que se está sozinho(a) em casa e quer curtir uma música de qualidade)

Lived In Bars
Cat Power

We’ve lived in bars
And danced on tables
Hotel trains and ships that sail
We swim with sharks
And fly with aeroplanes in the air

Send in the trumpets
The marching wheelchairs
Open the blankets and give them some air
Swords and arches bones and cement
The light and the dark of the innocent of men

We know your house so very well
And we will wake you once we’ve walked up
All your stairs

There’s nothing like living in a bottle
And nothing like ending it all for the world
We’re so glad you will come back
Every living lion will lay in your lap
The kid has a homecoming the champion the horse
Who’s going to play drums, guitar or organ with chorus
As far as we’ve walked from both of ends of the sand
Never have we caught a glimpse of this man

We know your house so very well
And we will bust down your door if you’re not there

We’ve lived in bars
And danced on tables
Hotel trains and ships that sail
We swim with sharks
And fly with aeroplanes out of here

Todo Carnaval Tem Seu Fim – Los Hermanos
Composição: Marcelo Camelo

Todo dia um ninguém josé acorda já deitado
Todo dia ainda de pé o zé dorme acordado
Todo dia o dia não quer raiar o sol do dia
Toda trilha é andada com a fé de quem crê no ditado
De que o dia insiste em nascer
Mas o dia insiste em nascer
Pra ver deitar o novo

Toda rosa é rosa porque assim ela é chamada
Toda Bossa é nova e você não liga se é usada
Todo o carnaval tem seu fim
Todo o carnaval tem seu fim
E é o fim, e é o fim

Deixa eu brincar de ser feliz,
Deixa eu pintar o meu nariz

Toda banda tem um tarol, quem sabe eu não toco
Todo samba tem um refrão pra levantar o bloco
Toda escolha é feita por quem acorda já deitado
Toda folha elege um alguém que mora logo ao lado
E pinta o estandarte de azul
E põe suas estrelas no azul
Pra que mudar?

Deixa eu brincar de ser feliz,
Deixa eu pintar o meu nariz

Tá-hi (Pra Você Gostar De Mim)
Roberta Sá
Composição: Joubert de Carvalho

Tahí
Eu fiz tudo pra você gostar de mim
Ó, meu bem
Não faz assim comigo, não
Você tem
Você tem
Que me dar seu coração

Meu amor, não posso esquecer…
Se dá alegria, faz também sofrer
A minha vida foi sempre assim
Só chorando as mágoas que não tem fim

Essa história de gostar de alguém
Já é mania que as pessoas têm
Se me ajudasse nosso senhor
Eu não pensaria mais no amor

Santo Samba
Pedro Luís & A Parede
Composição: Pedro luis

Parei pra pensar um pouco
Quão louco que está o mundo
Do jeito que as coisas andam
Um dia ainda largo tudo

Os Santos estão pirando
Não dão conta da demanda
Se eles sartam de banda
Nos resta seguir cantando

Deixo as mágoas para trás
Deixo tudo que não presta
Desligo os problemas
E chamo os amigos pra fazer a festa

Vou cuidar de sambar
Vou cantar pra valer
O samba é um santo remédio
Pra quem quer viver

Versão ao vivo

Versão original

Toda vez que eu dou um passo o mundo sai do lugar
Siba e Fuloresta

Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar

Eu vivo no mundo com medo, do mundo me atropelar
(Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar)

E o mundo por ser redondo, tem por destino embolar
(Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar)

Desde quando o mundo é mundo, nunca pensou de parar
(Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar)

E tem hora que até me canso de ver o mundo rodar
(Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar)

Quando eu vou dormir eu rezo pro mundo me acalentar
(Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar)

De manhã escuto o mundo gritando pra me acordar
(Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar)

Ouço o mundo me dizendo: -Corra pra me acompanhar!
(Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar)

Se eu correr e ir atrás do mundo vou gastar meu calcanhar
(Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar)

(Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar)

Eu procurei o fim do mundo porém não pude alcançar
(Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar)

Também não vivo pensando de ver o mundo acabar
(Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar)

Nem vou gastar meu juízo querendo o mundo explicar
(Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar)

E quando um deixa o mundo tem trinta querendo entrar
(Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar)

Composição: Música: Luiz Bonfá – Letra: Antonio Maria

Manhã, tão bonita manhã
Na vida, uma nova canção
Cantando só teus olhos
Teu riso, tuas mãos
Pois há de haver um dia
Em que virás
Das cordas do meu violão
Que só teu amor procurou
Vem uma voz
Falar dos beijos perdidos
Nos lábios teus
Canta o meu coração
Alegria voltou
Tão feliz a manhã
Deste amor

Mais sobre Luiz Bonfá: http://pt.wikipedia.org/wiki/Luiz_Bonfá

Mais sobre Nara Leão: http://pt.wikipedia.org/wiki/Nara_Leão

Cântico negro

José Régio


“Vem por aqui” — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: “vem por aqui!”
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali…
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos…
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: “vem por aqui!”?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí…
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?…
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos…

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios…
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios…
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: “vem por aqui”!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou…
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

José Régiopseudônimo literário de José Maria dos Reis Pereira, nasceu em Vila do Conde em 1901. Licenciado em Letras em Coimbra, ensinou durante mais de 30 anos no Liceu de Portalegre. Foi um dos fundadores da revista “Presença”, e o seu principal animador. Romancista, dramaturgo, ensaísta e crítico, foi, no entanto, como poeta. que primeiramente se impôs e a mais larga audiência depois atingiu. Com o livro de estréia — “Poemas de Deus e do Diabo” (1925) — apresentou quase todo o elenco dos temas que viria a desenvolver nas obras posteriores: os conflitos entre Deus e o Homem, o espírito e a carne, o indivíduo e a sociedade, a consciência da frustração de todo o amor humano, o orgulhoso recurso à solidão, a problemática da sinceridade e do logro perante os outros e perante a si mesmos.

Teatro do Caos agora está no Twitter

Publicado: 03/01/2010 por Luiz Vieira em O caos Indica, Twitter

Olá Pessoal

O Teatro do caos está agora no Twitter.

Sigam: http://twitter.com/teatrodocaos

Esperamos vocês lá.

Abraços

Motörhead – Serial Killer
(Tradução)

Eu sou o serial killer
Eu sou a mão sangrenta
Eu sou o chefe tomador de putas
Eu sou o escolhido.

Eu sou a navalha vermelha reta,
Aquele que se banha em sangue;
Eu sou o bicho-papão, eu sou
a vazia capa bocejante,
Não olhar para a piedade, não;
Eu sou o homem sem coração,
Eu vim concertar todas as coisas,
Eu sou o homem de um bando.

Você ainda não pode imaginar,
Como você dançará para mim;
Mas você dançará para sempre
Para a melodia que eu decretar.
O reino do verme,
É todas as coisas para todos nós,
Mas eu lhe ensinarei muitas coisas,
antes de eu te deixar cair.

Eu sou o negro pesadelo morto.
Eu trago uma luz tão forte;
Para iluminar o caminnho que pegaremos;
Eu mostro a maneira que todos os corações quebram,
E eu verei o velho mundo de volta ser quebrado

À medida que descemos para o horrível

Uivante

Noite

“Vem por aqui” — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: “vem por aqui!”
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali…
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos…
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: “vem por aqui!”?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí…
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?…
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos…

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios…
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios…
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: “vem por aqui”!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou…
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

Finitude

Existem muitas histórias sobre o analista de Ba gé, mas não sei se todas são verdadeiras. Seus métodos são certamente pouco ortodoxos, embora ele mesmo se descreva como “freudiano barbaridade”. E parece que dão certo, pois sua clientela aumenta. Foi ele que desenvolveu a terapia do joelhaço.
Diz que quando recebe um paciente novo no seu cons ultório a primeira coisa que o analista de Bagé faz é lhe dar um joelhaço. Em paciente homem, claro, pois em mulher, segundo ele, “só se bate pra descarrega energia”. Depois do joelhaço o paciente é levado, dobrado ao meio, para o divã coberto com um pelego.
– Te abanca, índio velho, que ta incluído no preço.
– Ai – diz o paciente.
– Toma um mate?
– Nã-não… – geme o paciente.
– Respira fundo, tchê. Enche o bucho que passa.
O paciente respira fundo. O analista de Bagé pergunta:
– Agora, qual é o causo?
– É depressão, doutor.
O analista de Bagé tira uma palha de trás da orelha e começa a enrolar um cigarro.
– To te ouvindo – diz.
– É uma coisa existencial, entende?
– Continua, no más.
– Começo a pensar, assim, na fìnitude humana em contraste com o infinito cósmico…
– Mas tu é mais complicado que receita de creme Assis Brasil.
– E então tenho consciência do vazio da exis tência, da desesperança inerente á condição humana. E isso me angustia.
– Pos vamos dar um jeito nisso agorita – diz o analista de Bagé, com uma baforada.
– O senhor vai curar a minha angústia?
– Não, vou mudar o mundo. Cortar o mal pela mandioca.
– Mudar o mundo?
– Dou uns telefonemas aí e mudo a condição humana.
– Mas… Isso é impossível!
– Ainda bem que tu reconhece, animal!
– Entendi. O senhor quer dizer que é bobagem se angustiar com o inevitável.
– Bobagem é espirrá na farofa. Isso é burrice e da gorda.
– Mas acontece que eu me angustio. Me dá um aperto na garganta…
– Escuta aqui, tchê. Tu te alimenta bem?
– Me alimento.
– Tem casa com galpão?
– Bem… Apartamento.
– Não é veado? Não.
– Tá com os carnê em dia?
– Estou.
– Então, ó bagual. Te preocupa com a defesa do Guarani e larga o infinito.
– O Freud não me diria isso.
– O que o Freud diria tu não ia entender mesmo. Ou tu sabe alemão?
– Não.
– Então te fecha. E olha os pés no meu pelego.
– Só sei que estou deprimido e isso é terrível. É pior do que tudo.
Aí o analista de Bagé chega a sua cadeira para perto do divã e pergunta :
– É pior que joelhaço?

Ruído

Publicado: 09/11/2009 por JEFF em O caos Indica

Poesia de Leonardo Mendel postada como comentário em “Coisa pouca”. Confiram!

Umbrella II

Publicado: 30/10/2009 por Luiz Vieira em Poesia, Poesias, Produção "Teatro do Caos"

Findou-se o tempo escolar,
A água límpida se deixa cair nos telhados
Eu posso te proteger garota
Eu posso te levar em casa
Ela espera nervosa que passe a tormenta
Eu espero cavalheiro que esta não passe nunca
Ou que a garota simplesmente desista
E pacientemente me acompanhe.
– Eu te levo.
– Mas você mora do outro lado da cidade
– Moça, eu te levo.
Levei… Não foi tão difícil
Agarrou o meu braço, encostou sua cabeça em mim
Senti seu perfume, calmo, delirante.
Sua respiração estava ofegante
Eu caminhava como um rei.
Entre saltos e plano falidos
Tentávamos desviar das poças d’água do chão
Pois a meia é o último estágio da dignidade humana
Ela me falou dos trabalhos escolares
Eu lhe falei do seu cheiro inebriante
Ela me falou da professora chata de matemática
Eu lhe falei da beleza dos seus olhos verdes
Caminhávamos devagar; para que isso durasse bastante
Sempre desfio essas malditas leis temporais
Seu corpo já está grudado ao meu
Paramos…
A mão na cintura, o olhar penetrante,
O cheiro, a água que caia, o vento frio que soprava
Os lábios, o hálito, o abraço, o afago nos cabelos
A língua, o pescoço, os dentes, a pele…
O novo dia, o fim da tormenta, os raios de sol
A calma, a despedida.
O sorriso e A volta pra casa.

Luiz Vieira

Umbrella I

Publicado: 30/10/2009 por Luiz Vieira em Poesia, Poesias, Produção "Teatro do Caos"

Algumas nuvens negras agora começam a ganhar espaço
O azul translúcido do céu, Algumas lágrimas divinas
Por ele passam vagarosamente, o vento agora está frio
Ele perambula pelas ruas vazias, como se caminhasse pelas almas humanas
Não! Essa escuridão não é a proximidade da noite
É água…
Depois de senti-la caminhando do rosto até o pescoço
Ele está protegido, não foge; tenta viver um pouco
Este som calmo e preciso, mas às vezes variável
Caminha sozinho, pois é assim que caminhamos sem mentiras
A água lava os átrios sujos da cidade
A imundice agora anda junto dele pela rua
Ele chora e ri, ele não pode pensar
Quando o mundo se une a ele
O vagabundo se esconde; o vira-lata também
O dia está frio; A cores do mundo estão desbotadas
Você que houve, diz sobre a preciosidade das estrelas do céu
Ele que caminha vê somente seus passos na água suja da cidade

 

Luiz Vieira

Cheque-Mate

Publicado: 20/10/2009 por Luiz Vieira em Poesia, Poesias, Produção "Teatro do Caos"

As cores brilhantes deste dia de sol
As nuvens brancas, a textura láctea
O vento breve, despreocupado e falante
Um mundo inteiro de areia escura

As cores encobertas pelo marrom
Os corpos espalhados na areia quente
O chão sugando a energia vital
Desolação, esperança, solidão

Finalmente quis desistir
Não querem mas lutar
O corpo prepara a partida
A glória sonhada não chegou
O amor eterno e reciproco
não veio….
Esqueceu o endereço do inquilino

O agora, agora é sublime
O sangue agora é justo
O mundo, senhores celebra:
Cheque-Mate

Luiz Vieira

O Caos indica: BLU – Muto

Publicado: 14/10/2009 por JEFF em O caos Indica, Videos

Mesclando técnicas de grafite e pintura em muros e paredes da cidade de Buenos Aires e arredores, BLU – artista argentino – faz um vídeo em “stop-motion”, pintando/grafitando, fotografando, pintando por cima, pintando/grafitando novamente, fotografando… refazendo os quadros até obter o resultado que é esse genial vídeo: “Muto”. Apreciem.

O Caos Indica: Mónologo (Chico Anísio)

Publicado: 07/10/2009 por Luiz Vieira em O caos Indica, Poesia, Poesias

Mundo moderno, marco malévolo, mesclando mentiras, modificando maneiras, mascarando maracutaias, majestoso manicômio. Meu monólogo mostra mentiras, mazelas, misérias, massacres, miscigenação, morticínio — maior maldade mundial.

Madrugada, matuto magro, macrocéfalo, mastiga média morna. Monta matumbo malhado munindo machado, martelo, mochila murcha. Margeia mata maior. Manhãzinha, move moinho, moendo macaxeira, mandioca. Meio-dia, mata marreco, manjar melhorzinho. Meia-noite, mima mulherzinha mimosa, Maria morena, momento maravilha, motivação mútua, mas monocórdia mesmice. Muitos migram, macilentos, maltrapilhos. Morarão modestamente, malocas metropolitanas, mocambos miseráveis. Menos moral, menos mantimentos, mais menosprezo. Metade morre.

Mundo maligno, misturando mendigos maltratados, menores metralhados, militares mandões, meretrizes, marafonas, mocinhas, meras meninas, mariposas mortificando-se moralmente. Modestas moças maculadas, mercenárias mulheres marcadas.

Mundo medíocre. Milionários montam mansões magníficas: melhor mármore, mobília mirabolante, máxima megalomania, mordomo, mercedes, motorista, mãos… Magnatas manobrando milhões, mas maioria morre minguando. Moradia meiágua, menos, marquise.

Mundo maluco, máquina mortífera. Mundo moderno, melhore. Melhore mais, melhore muito, melhore mesmo. Merecemos. Maldito mundo moderno, mundinho merda.

O Caos indica: Matanza – Tempo Ruim

Publicado: 04/10/2009 por rodoxcaos em Músicas, O caos Indica

Tempo Ruim
Matanza

Ergam seus copos por quem vai partir
Longo será o caminho a seguir
Nada será como costuma ser
Nada vai ser fácil pra você

Não faça o mesmo que fez o seu pai
Não leve armas lá onde vai
Tantos eu já vi pagando pra ver
Não dá tempo de se arrepender
Nada que já não deva saber
Não há nada que não possa ter

Quero que a estrada venha sempre até você
E que o vento esteja sempre a seu favor
Quero que haja sempre uma cerveja em sua mão
E que esteja ao seu lado, seu grande amor

Eu me despeço de todos vocês
Muitos aqui não verei outra vez
Fora o inverno e o tempo ruim
Eu não sei o que espera por mim
Mas pouco importa o que venha a ser
Se eu tiver um dia a quem dizer

Quero que a estrada venha sempre até você
E que o vento esteja sempre a seu favor
Quero que haja sempre uma cerveja em sua mão
E que esteja ao seu lado, seu grande amor.

Rodolfo Morais

“Oh amigos, mudemos de tom!
Entoemos algo mais agradável
E cheio de alegria!
Alegria, mais belo fulgor divino,
Filha de Elíseo,Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Teus encantos unem novamente
O que o rigor da moda separou.
Todos os homens se irmanam
Onde pairar teu vôo suave.
A quem a boa sorte tenha favorecido
De ser amigo de um amigo,
Quem já conquistou uma doce companheira
Rejubile-se conosco!
Sim, também aquele que apenas uma alma,possa chamar de sua sobre a Terra.
Mas quem nunca o tenha podido
Livre de seu pranto esta Aliança!
Alegria bebem todos os seres
No seio da Natureza:Todos os bons, todos os maus,
Seguem seu rastro de rosas.
Ela nos dá beijos e as vinhas
Um amigo provado até a morte;
A volúpia foi concedida ao verme
E o Querubim está diante de Deus!
Alegres, como voam seus sóis
Através da esplêndida abóboda celeste
Sigam irmãos sua rota
Gozosos como o herói para a vitória.
Abracem-se milhões de seres!
Enviem este beijo para todo o mundo!
Irmãos! Sobre a abóboda estrelada
Deve morar o Pai Amado.
Vos prosternais, Multidões?
Mundo, pressentes ao Criador?
Buscais além da abóboda estrelada!
Sobre as estrelas Ele deve morar.

FRIEDRICH SCHILLER


Mais sobre FRIEDRICH SCHILLER:  http://pt.wikipedia.org/wiki/Friedrich_Schiller

O Caos indica: Artes visuais: Dipirfoeizlu

Publicado: 11/09/2009 por rodoxcaos em O caos Indica

Artistas plásticos de talento e técnica consistentes, e com um lado totalmente voltado à contemporaneidade, estão ai para mostrar serviço. Podem ser chamados de artistas do novo milênio, pois são frutos de uma geração que não se contenta somente em pintar seus quadros. São artistas que tem uma relação direta com a informática, com a arte urbana (grafite), com a música e com as novas tendências que surgem a cada dia nesse nosso mundo globalizado, sem falar na ampla referência a cultura pop.

Dois exemplos desses artista em Montes Claros são o Luiz di Nascimento – Izlu e a Stephanie Pirfo – Dipirfo, ambos com os olhos e mentes voltadas ao contemporâneo.

E por estarem ligados às novas tecnologias, usaram da própria internet como ferramenta para divulgação de suas obras. Nesse caso o flickr.

Link para o site:

www.flickr.com/photos/dipirfoeizlu

Dipirfo

A pintura persiste como suporte mais explorado da artista plástica Stephanie Pirfo, é seguidora dessa tendência da arte contemporânea nacional. Dona de um trabalho que evoca um colorido forte e denso, a artista cria uma poética em que nuances de uma sutil inspiração barroca é perceptível e nessas reminiscências as obras abraçam o excesso de informação. A tropicalidade do colorido cria formas de uma sensualidade tamanha quanto às referências ao casario montesclarense, em que é inspirada. Olhando as composições da artista é impossível não ver ali a influência de Beatriz Milhazes, o jogo das cores acaba por criar uma nova experiência plástica em que as influências vão além e descobre no seu grande sertão a sua grande inspiração e deste modo a artista corajosamente cria uma pintura lírica regida por encantadores incongruências formais.*

dp043095979354_9efb81d138Rococó – Stephanie Pirfo (Dipirfo)

dp063095708152_ffecf8a5e3Jardim de Psciotta – Stephanie Pirfo (Dipirfo)

Izlu

A atual fase da obra de Luiz di Nascimento é pop, é um mergulho na cultura pop e nos seus ícones artistas e músicos. O artista retrocede aos anos da década de 1960 para criar uma pintura figurativa, excesso de cores, chuvas de pingos coloridos, e um debrum negro ressaltando da tela com uma grande imagem central, onde a apropriação de elementos da cultura de massa se torna único. As pinturas de Luiz di Nascimento sofrem de uma dose de glamourização assim como a pintura pop norte-americana. O jovem artista se inspira nas obras de Andy Warhol, que paira até hoje no mainstream das artes e isso ocorre quando se apropria das imagens dos Beatles ou Salvador Dali. A cultura pop e suas cores vibrantes, e os principais ícones da nossa cultura artística faz parte deste trabalho plástico sedutor e atraente do artista.*

dp013411313473_5cb75e43b2Buddy Guy – Luiz Di Nascimento (Izlu)

dp023362998138_27b80a8917Miles Daves – Luiz Di Nascimento (Izlu)

*deusamba.blogspot.com

Martini

Publicado: 05/09/2009 por Luiz Vieira em Poesias, Produção "Teatro do Caos"

Ontem eu menti
Incrivelmente disse:
– Eu também gosto de Martini!
Incrível a coincidência!
Não gosto!
Até acrescento:
… Um homem
Que se preze não bebe Martini.
…Nem percebi quando disse
Talvez tivesse más intenções
Com o belo corpo que se apresentava
Voluptuoso, novo e suave a minha frente
Porque não pedi o maldito
Uísque com energético de sempre?

É duro admitir:
– Eu às vezes minto.
Consolo-me apenas quando concluo
Eu não estou só…
Provavelmente somos todos mentirosos
Mentimos todos quando olhamos
Embriagados de torpor
O belo amanhecer ou entardecer
Proclamando a todos os cantos do mundo
A beleza da vida, a maravilha de estar vivo.
Não que eu duvide da beleza destas coisas
Ou tenha uma monstruosa teoria metafísica
Para provar que tudo isso seja uma grande mentira
Certo é
A beleza destes curtos momentos de embriagues
Não apagam a verdade dos jornais
E as imagens que vejo todos os dias.
Teria alguém errado miseravelmente na criação deste mundo?
Ou câncer, HIV, guerra, Bush, Zezé de Camargo e Luciano,
Aleijados, mendigos, mortos de fome, Furacão 2000, etc…
São simplesmente conseqüências extremas
Dos nossos erros?
Bem… melhor é mentir de novo
Rezar outra vez,
Extasiar-me nas belezas deste mundo
Aceitando os erros dele
Sorrir para quem odeio
Acreditar na vida eterna
Ser um bom garoto
E claro dizer que gosto de Martini

Luiz Vieira

O Caos indica: Jamendo

Publicado: 26/08/2009 por rodoxcaos em Músicas, O caos Indica

Sabe aquela mentira história de que músicas grátis e livremente compartilhadas vão matar os artistas, tirando deles o seu sustento? Esquece (se é que já não esqueceu), é uma mentira contada muitas vezes e ainda tem gente que acredita. Hoje os álbuns publicados sob licença Creative Commons estão aí para provar que tem muito artista está ganhando dinheiro, sem precisar cobrar por seus trabalhos e muito menos mandar gente pra cadeia.

E os números de álbuns nessas condições só aumentam, começando a mostrar certa tendência de álbuns grátis se desenhando, bem diferente dos números da RIAA, que afirmam que menos de um por cento das obras musicais estão sob licença Creative Commons.

O site Jamendo está para provar o inverso. Ele é como um agregador de músicas grátis e vem crescendo a uma velocidade assombrosa. Só para se ter idéia, ele demorou três anos para agregar 10 mil álbuns… e meros 11 meses para bater os 20 mil.

Jamendo é uma plataforma online para divulgação de música. Um projeto desenvolvido para artistas independentes que buscam um espaço online de promoção para seus trabalhos. E que segue uma linha do SoundPédia.

Através dele você pode escutar, baixar e descobrir novas músicas através de uma rede de afinidades. As músicas são todas creative commons e o portal oferece inclusive um sistema para que você doe dinheiro para um grupo que você gosta. Uma ótima maneira de divulgar seu trabalho e de conhecer coisas novas. “Já tem até alguns brasileiros por lá.”

Além de tudo o site é antenado, e firma parcerias com o IsoHunt, e utiliza o protocolo BitTorrent para downloads, o que diminui a banda dos downloads. Mas, mesmo assim, eles também utilizam o clássico HTTP como alternativa, para os usuários pouco familiarizados com Torrents.

Querem números (de junho do ano passado) que comprovem o sucesso da iniciativa? O site tem uma média de 500 mil downloads diários e uma média de 300 álbuns novos por semana.

Site:
www.jamendo.com

*Fontes
http://anarquia.nerdssomosnozes.com/search/label/M%C3%BAsicas
http://gattune.blog.br/jamendo-abra-seus-ouvidos-para-um-musica-conceito/

João Cabral de Melo Neto nasceu na cidade de Recife – PE, no dia 09 de janeiro de 1920, na rua da Jaqueira (depois Leonardo Cavalcanti), segundo filho de Luiz Antônio Cabral de Melo e de Carmem Carneiro-Leão Cabral de Melo. Primo, pelo lado paterno, de Manuel Bandeira e, pelo lado materno, de Gilberto Freyre. Passa a infância em engenhos de açúcar. Primeiro no Poço do Aleixo, em São Lourenço da Mata, e depois nos engenhos Pacoval e Dois Irmãos, no município de Moreno.

Em 1930, com a mudança da família para Recife, inicia o curso primário no Colégio Marista. João Cabral era um amante do futebol, tendo sido campeão juvenil pelo Santa Cruz Futebol Clube em 1935.

Foi na Associação Comercial de Pernambuco, em 1937, que obteve seu primeiro emprego, tendo depois trabalhado no Departamento de Estatística do Estado. Já com 18 anos, começa a freqüentar a roda literária do Café Lafayette, que se reúne em volta de Willy Lewin e do pintor Vicente do Rego Monteiro, que regressara de Paris por causa da guerra.

Em 1940 viaja com a família para o Rio de Janeiro, onde conhece Murilo Mendes. Esse o apresenta a Carlos Drummond de Andrade e ao círculo de intelectuais que se reunia no consultório de Jorge de Lima. No ano seguinte, participa do Congresso de Poesia do Recife, ocasião em que apresenta suas Considerações sobre o poeta dormindo.

1942 marca a publicação de seu primeiro livro, Pedra do Sono. Em novembro viaja, por terra, para o Rio de Janeiro.  Convocado para servir à  Força Expedicionária Brasileira (FEB), é dispensado por motivo de saúde. Mas permanece no Rio, sendo aprovado em concurso e nomeado Assistente de Seleção do DASP (Departamento de Administração do Serviço Público). Freqüenta, então, os intelectuais que se reuniam no Café Amarelinho e Café Vermelhinho, no Centro do Rio de Janeiro. Publica Os três mal-amados na Revista do Brasil.

O engenheiro é publicado em 1945, em edição custeada por Augusto Frederico Schmidt. Faz concurso para a carreira diplomática, para a qual é nomeado em dezembro. Começa a trabalhar em 1946, no Departamento Cultural do Itamaraty, depois no Departamento Político e, posteriormente, na comissão de Organismos Internacionais. Em fevereiro, casa-se com Stella Maria Barbosa de Oliveira, no Rio de Janeiro. Em dezembro, nasce seu primeiro filho, Rodrigo.

É removido, em 1947, para o Consulado Geral em Barcelona, como vice-cônsul. Adquire uma pequena tipografia artesanal, com a qual publica livros de poetas brasileiros e espanhóis. Nessa prensa manual imprime Psicologia da composição. Nos dois anos seguintes ganha dois filhos: Inês e Luiz, respectivamente. Residindo na Catalunha, escreve seu ensaio sobre Joan Miró, cujo estúdio freqüenta. Miró faz publicar o ensaio com texto em português, com suas primeiras gravuras em madeira.

Removido para o Consulado Geral em Londres, em 1950, publica O cão sem plumas. Dois anos depois retorna ao Brasil para responder por inquérito onde é acusado de subversão. Escreve o livro O rio, em 1953, com o qual recebe o Prêmio José de Anchieta do IV Centenário de São Paulo (em 1954). É colocado em disponibilidade pelo Itamaraty, sem rendimentos, enquanto responde ao inquérito, período em que trabalha como secretário de redação do Jornal A Vanguarda, dirigido por Joel Silveira. Arquivado o inquérito policial, a pedido do promotor público, vai para Pernambuco com a família. Lá, é recebido em sessão solene pela Câmara Municipal do Recife.

Em 1954 é convidado a participar do Congresso Internacional de Escritores, em São Paulo. Participa também do Congresso Brasileiro de Poesia, reunido na mesma época. A Editora Orfeu publica seus Poemas Reunidos. Reintegrado à carreira diplomática pelo Supremo Tribunal Federal, passa a trabalhar no Departamento Cultural do Itamaraty.

Duas alegrias em 1955: o nascimento de sua filha Isabel e o recebimento do Prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras. A Editora José Olympio publica, em 1956, Duas águas, volume que reúne seus livros anteriores e os inéditos: Morte e vida severina, Paisagens com figuras e Uma faca só lâmina. Removido para Barcelona, como cônsul adjunto, vai com a missão de fazer pesquisas históricas no Arquivo das Índias de Sevilha, onde passa a residir.

Em 1958 é removido para o Consulado Geral em Marselha. Recebe o prêmio de melhor autor no Festival de Teatro do Estudante, realizado no Recife. Publica em Lisboa seu livro Quaderna, em 1960. É removido para Madri, como primeiro secretário da embaixada. Publica, em Madri, Dois parlamentos.

Em 1961 é nomeado chefe de gabinete do ministro da Agricultura, Romero Cabral da Costa, e passa a residir em Brasília. Com o fim do governo Jânio Quadros, poucos meses depois, é removido outra vez para a embaixada em Madri. A Editora do Autor, de Rubem Braga e Fernando Sabino, publica Terceira feira, livro que reúne Quaderna, Dois parlamentos, ainda inéditos no Brasil, e um novo livro: Serial.

Com a mudança do consulado brasileiro de Cádiz para Sevilha, João Cabral muda-se para essa cidade, onde reside pela segunda vez. Continuando seu vai-e-vem pelo mundo, em 1964 é removido como conselheiro para a Delegação do Brasil junto às Nações Unidas, em Genebra. Nesse ano nasce seu quinto filho, João.

Como ministro conselheiro, em 1966, muda-se para Berna. O Teatro da Universidade Católica de São Paulo produz o auto Morte e Vida Severina, com música de Chico Buarque de Holanda, primeiro encenado em várias cidades brasileiras e depois no Festival de Nancy, no Théatre des Nations, em Paris e, posteriormente, em Lisboa, Coimbra e Porto.  Em Nancy recebe o prêmio de Melhor Autor Vivo do Festival. Publica A educação pela pedra, que recebe os prêmios Jabuti; da União de Escritores de São Paulo; Luisa Cláudio de Souza, do Pen Club; e o prêmio do Instituto Nacional do Livro. É designado pelo Itamaraty para representar o Brasil na Bienal de Knock-le-Zontew, na Bélgica.

1967 marca sua volta a Barcelona, como cônsul geral. No ano seguinte é publicada a primeira edição de Poesias completas. É eleito, em 15 de agosto de 1968, para a Academia Brasileira de Letras na vaga de Assis Chateaubriand. É recebido em sessão solene pela Assembléia Legislativa de Pernambuco como membro do Conselho Deliberativo da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT).

Toma posse na Academia em 06 de maio de 1969, na cadeira número 6, sendo recebido por José Américo de Almeida. A Companhia Paulo Autran encena Morte e vida severina em diversas cidades do Brasil. É removido para a embaixada de Assunção, no Paraguai, como ministro conselheiro. Torna-se membro da Hispania Society of America e recebe a comenda da Ordem de Mérito Pernambucano.

Após três anos em Assunção, é nomeado embaixador em Dacar, no Senegal, cargo que exerce cumulativamente com o de embaixador da Mauritânia, no Mali e na Giné-Conakry.

Em 1974 é agraciado com a Grã-Cruz da Ordem de Rio Branco. No ano seguinte publica Museu de Tudo, que recebe o Grande Prêmio de Crítica da Associação Paulista de Críticos de Arte. É agraciado com a Medalha de Humanidades do Nordeste.

Em 1976 é condecorado Grande Oficial da Ordem do Mérito do Senegal e, em 1979, como Grande Oficial da Ordem do Leão do Senegal. É nomeado embaixador em Quito, Equador e publica A escola das facas.

A convite do governador de Pernambuco, vai a Recife (em 1980) para fazer o discurso inaugural da Ordem do Mérito de Guararapes, sendo condecorado com a Grã-Cruz da Ordem. Ali é inaugurada uma exposição bibliográfica de sua obra, no Palácio do Governo de Pernambuco, organizada por Zila Mamede. Recebe a Comenda do Mérito Aeronáutico e a Grã-Cruz do Equador.

No ano seguinte vai para Honduras, como embaixador. Publica a antologia Poesia crítica.

Em 1982 é agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Vai para a cidade do Porto, em Portugal, como cônsul geral. Recebe o Prêmio Golfinho de Ouro do Estado do Rio de Janeiro.  Publica Auto do frade, escrito em Tegucigalpa.

Ganha o Prêmio Moinho Recife, em 1984 e, no ano seguinte, publica os poemas de Agrestes. Nesse livro há uma sessão dedicada à morte (“A indesejada das gentes”). Em 1986 é agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Pernambuco. Sua esposa, Stella Maria, falece no Rio de Janeiro. João Cabral reassume o Consulado Geral no Porto. Casa-se em segundas núpcias com a poeta Marly de Oliveira.

Em 1987 publica Crime na Calle Relator, poemas narrativos. Recebe o prêmio da União Brasileira de Escritores. É removido para o Rio de Janeiro.

Em Recife, no ano de 1988, lança sua antologia Poemas pernambucanos. Publica, também, o segundo volume de poesias completas: Museu de tudo e depois. Recebe o Prêmio da Bienal Nestlé de Literatura pelo conjunto da obra, e o Prêmio Lily de Carvalho da ABCL, Rio de Janeiro.

Aposenta-se como embaixador em 1990 e publica Sevilha andando. É eleito para a Academia Pernambucana de Letras, da qual havia recebido, anos antes, a medalha Carneiro Vilela.  Recebe os seguintes prêmios: Criadores de Cultura da Prefeitura do Recife, Luis de Camões (concedido conjuntamente pelos governos de Portugal e do Brasil), em Lisboa. É condecorado com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Judiciário e do Trabalho. A Faculdade Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro publica Primeiros Poemas.

Outros prêmios: Pedro Nava (1991) pelo livro Sevilha andando; Casa das Américas, concedido pelo Estado de São Paulo (1992); e também nesse ano o Neustadt International Prize for Literature, da Universidade de Oklahoma. Viaja a Sevilha para representar o presidente da República nas comemorações do dia 7 de Setembro, que tiveram lugar na Exposição do IV Centenário da Descoberta da América. No Pavilhão do Brasil, foi distribuída sua antologia Poemas sevilhanos, em edição especial. No Rio de Janeiro, na Casa da Espanha, recebe do embaixador espanhol a Grã-Cruz da Ordem de Isabel, a Católica.

Em 1993 recebe o Prêmio Jabuti, instituído pela Câmara Brasileira do Livro.

João Cabral era atormentado por uma dor de cabeça que não o deixava de forma alguma. Ao saber, anos atrás, que sofria de uma doença degenerativa incurável, que faria sua visão desaparecer aos poucos, o poeta anunciou que ia parar de escrever. Já em 1990, com a finalidade de ajudá-lo a vencer os males físicos e a depressão, Marly, sua segunda esposa, passa a escrever alguns textos tidos como de autoria do biografado. Conforme declarações de amigos, escreveu o discurso de agradecimento feito pelo autor ao receber o Prêmio Luis de Camões, considerado o mais importante prêmio concedido a escritores da língua portuguesa, entre outros. Foi a forma encontrada para tentar tirá-lo do estado depressivo em que se encontrava. Como não admirava a música, o autor foi perdendo também a vontade de falar (“Não tenho muito o que dizer”, argumentava). Era, sem dúvida, o nosso mais forte concorrente ao prêmio Nobel, com diversas indicações dos mais variados segmentos de nossa sociedade.

Transcrevemos abaixo o discurso proferido por Arnaldo Niskier, presidente da Academia Brasileira de Letras, por ocasião da morte do poeta, em 09/10/99:

“Adeus a João Cabral”

“Severino retirante,
deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida;
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga;
é difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que vê, Severina;
mas se responder não pude
à pergunta que fazia
ela, a vida, a respondeu
com sua presença viva.”

Vida que foi para João Cabral uma bonita e ao mesmo tempo sofrida obra de engenharia poética, como demonstrou no seu inesquecível Morte e Vida Severina.

Aqui está o poeta João Cabral de Melo Neto, presente pela última vez na Academia Brasileira de Letras, de que foi, por 30 anos, uma das figuras fundamentais. Aos 79 anos, apaga-se a voz de significação universal, com a singularidade do seu verso, tantas vezes lembrado para a glória do Prêmio Nobel de Literatura.

A nossa dor, que é também a da sua companheira Marly de Oliveira e dos seus filhos e demais parentes, não apaga da nossa memória a convicção de que foi ele um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos – o poeta da razão – que jamais esqueceu, mesmo nos 40 anos de vida diplomática, as suas raízes pernambucanas. O homem que soube desenhar em versos cálidos a saga do retirante nordestino, quando ainda não havia passado dos 35 anos de idade.

João Cabral, o poeta João, que não se conformava em perfumar a flor, é o mesmo que escreveu aos 22 anos o livro Pedra do Sono, para depois nos brindar, entre outros, com O engenheiro, O cão sem plumas, Poesias completas, A educação pela pedra e o antológico Morte e Vida Severina, com versões no teatro e na mídia eletrônica.

Fecham-se os olhos cansados do poeta João e não conseguimos realizar o sonho que agora desvendo: ver o América Futebol Clube voltar aos seus dias de glória. Nem o daqui do Rio, nem aquele que era a sua verdadeira paixão: o América do Recife.

Quando preparava com ele a Cabraliana, que foi o seu primeiro audiolivro, ouvi fantásticas histórias da vida diplomática, especialmente dos tempos de Portugal, Espanha e Marrocos, além de nele reconhecer um orgulho especial pela família, parente que foi de grandes escritores brasileiros, como Gilberto Freyre, Manuel Bandeira, Mauro Mota e Antônio de Moraes e Silva, o famoso Moraes do Dicionário de Língua Portuguesa. Parece que era herdeiro, no seu jeito tão humilde e cativante, de uma genética literária originalíssima.

É compreensível a nossa consternação. Enquanto a saúde permitiu, honrou esta casa com a sua assiduidade e o seu sentimento da mais pura cordialidade. Sofrendo agora com o seu silêncio, curvamo-nos diante do grande poeta, para afirmar que a Academia sempre o terá presente, com a saudade e a admiração de todos os seus confrades.

Descanse em paz, poeta João. A sua presença jamais deixará de estar conosco. Teremos o consolo da sua poesia imortal.”

Dados obtidos nos livros do autor, em “Obra Completa”, organizada por Marly de Oliveira com assistência do autor e em sites da Internet.

Fonte: http://www.releituras.com/joaocabral_bio.asp

Para Baixar o Audio do Livro: CLIQUE AQUI

Em 1930, com a mudança da família para Recife, inicia o curso primário no Colégio Marista. João Cabral era um amante do futebol, tendo sido campeão juvenil pelo Santa Cruz Futebol Clube em 1935.

Foi na Associação Comercial de Pernambuco, em 1937, que obteve seu primeiro emprego, tendo depois trabalhado no Departamento de Estatística do Estado. Já com 18 anos, começa a freqüentar a roda literária do Café Lafayette, que se reúne em volta de Willy Lewin e do pintor Vicente do Rego Monteiro, que regressara de Paris por causa da guerra.

Em 1940 viaja com a família para o Rio de Janeiro, onde conhece Murilo Mendes. Esse o apresenta a Carlos Drummond de Andrade e ao círculo de intelectuais que se reunia no consultório de Jorge de Lima. No ano seguinte, participa do Congresso de Poesia do Recife, ocasião em que apresenta suas Considerações sobre o poeta dormindo.

1942 marca a publicação de seu primeiro livro, Pedra do Sono. Em novembro viaja, por terra, para o Rio de Janeiro.  Convocado para servir à  Força Expedicionária Brasileira (FEB), é dispensado por motivo de saúde. Mas permanece no Rio, sendo aprovado em concurso e nomeado Assistente de Seleção do DASP (Departamento de Administração do Serviço Público). Freqüenta, então, os intelectuais que se reuniam no Café Amarelinho e Café Vermelhinho, no Centro do Rio de Janeiro. Publica Os três mal-amados na Revista do Brasil.

O engenheiro é publicado em 1945, em edição custeada por Augusto Frederico Schmidt. Faz concurso para a carreira diplomática, para a qual é nomeado em dezembro. Começa a trabalhar em 1946, no Departamento Cultural do Itamaraty, depois no Departamento Político e, posteriormente, na comissão de Organismos Internacionais. Em fevereiro, casa-se com Stella Maria Barbosa de Oliveira, no Rio de Janeiro. Em dezembro, nasce seu primeiro filho, Rodrigo.

É removido, em 1947, para o Consulado Geral em Barcelona, como vice-cônsul. Adquire uma pequena tipografia artesanal, com a qual publica livros de poetas brasileiros e espanhóis. Nessa prensa manual imprime Psicologia da composição. Nos dois anos seguintes ganha dois filhos: Inês e Luiz, respectivamente. Residindo na Catalunha, escreve seu ensaio sobre Joan Miró, cujo estúdio freqüenta. Miró faz publicar o ensaio com texto em português, com suas primeiras gravuras em madeira.

Removido para o Consulado Geral em Londres, em 1950, publica O cão sem plumas. Dois anos depois retorna ao Brasil para responder por inquérito onde é acusado de subversão. Escreve o livro O rio, em 1953, com o qual recebe o Prêmio José de Anchieta do IV Centenário de São Paulo (em 1954). É colocado em disponibilidade pelo Itamaraty, sem rendimentos, enquanto responde ao inquérito, período em que trabalha como secretário de redação do Jornal A Vanguarda, dirigido por Joel Silveira. Arquivado o inquérito policial, a pedido do promotor público, vai para Pernambuco com a família. Lá, é recebido em sessão solene pela Câmara Municipal do Recife.

Em 1954 é convidado a participar do Congresso Internacional de Escritores, em São Paulo. Participa também do Congresso Brasileiro de Poesia, reunido na mesma época. A Editora Orfeu publica seus Poemas Reunidos. Reintegrado à carreira diplomática pelo Supremo Tribunal Federal, passa a trabalhar no Departamento Cultural do Itamaraty.

Duas alegrias em 1955: o nascimento de sua filha Isabel e o recebimento do Prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras. A Editora José Olympio publica, em 1956, Duas águas, volume que reúne seus livros anteriores e os inéditos: Morte e vida severina, Paisagens com figuras e Uma faca só lâmina. Removido para Barcelona, como cônsul adjunto, vai com a missão de fazer pesquisas históricas no Arquivo das Índias de Sevilha, onde passa a residir.

Em 1958 é removido para o Consulado Geral em Marselha. Recebe o prêmio de melhor autor no Festival de Teatro do Estudante, realizado no Recife. Publica em Lisboa seu livro Quaderna, em 1960. É removido para Madri, como primeiro secretário da embaixada. Publica, em Madri, Dois parlamentos.

Em 1961 é nomeado chefe de gabinete do ministro da Agricultura, Romero Cabral da Costa, e passa a residir em Brasília. Com o fim do governo Jânio Quadros, poucos meses depois, é removido outra vez para a embaixada em Madri. A Editora do Autor, de Rubem Braga e Fernando Sabino, publica Terceira feira, livro que reúne Quaderna, Dois parlamentos, ainda inéditos no Brasil, e um novo livro: Serial.

Com a mudança do consulado brasileiro de Cádiz para Sevilha, João Cabral muda-se para essa cidade, onde reside pela segunda vez. Continuando seu vai-e-vem pelo mundo, em 1964 é removido como conselheiro para a Delegação do Brasil junto às Nações Unidas, em Genebra. Nesse ano nasce seu quinto filho, João.

Como ministro conselheiro, em 1966, muda-se para Berna. O Teatro da Universidade Católica de São Paulo produz o auto Morte e Vida Severina, com música de Chico Buarque de Holanda, primeiro encenado em várias cidades brasileiras e depois no Festival de Nancy, no Théatre des Nations, em Paris e, posteriormente, em Lisboa, Coimbra e Porto.  Em Nancy recebe o prêmio de Melhor Autor Vivo do Festival. Publica A educação pela pedra, que recebe os prêmios Jabuti; da União de Escritores de São Paulo; Luisa Cláudio de Souza, do Pen Club; e o prêmio do Instituto Nacional do Livro. É designado pelo Itamaraty para representar o Brasil na Bienal de Knock-le-Zontew, na Bélgica.

1967 marca sua volta a Barcelona, como cônsul geral. No ano seguinte é publicada a primeira edição de Poesias completas. É eleito, em 15 de agosto de 1968, para a Academia Brasileira de Letras na vaga de Assis Chateaubriand. É recebido em sessão solene pela Assembléia Legislativa de Pernambuco como membro do Conselho Deliberativo da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT).

Toma posse na Academia em 06 de maio de 1969, na cadeira número 6, sendo recebido por José Américo de Almeida. A Companhia Paulo Autran encena Morte e vida severina em diversas cidades do Brasil. É removido para a embaixada de Assunção, no Paraguai, como ministro conselheiro. Torna-se membro da Hispania Society of America e recebe a comenda da Ordem de Mérito Pernambucano.

Após três anos em Assunção, é nomeado embaixador em Dacar, no Senegal, cargo que exerce cumulativamente com o de embaixador da Mauritânia, no Mali e na Giné-Conakry.

Em 1974 é agraciado com a Grã-Cruz da Ordem de Rio Branco. No ano seguinte publica Museu de Tudo, que recebe o Grande Prêmio de Crítica da Associação Paulista de Críticos de Arte. É agraciado com a Medalha de Humanidades do Nordeste.

Em 1976 é condecorado Grande Oficial da Ordem do Mérito do Senegal e, em 1979, como Grande Oficial da Ordem do Leão do Senegal. É nomeado embaixador em Quito, Equador e publica A escola das facas.

A convite do governador de Pernambuco, vai a Recife (em 1980) para fazer o discurso inaugural da Ordem do Mérito de Guararapes, sendo condecorado com a Grã-Cruz da Ordem. Ali é inaugurada uma exposição bibliográfica de sua obra, no Palácio do Governo de Pernambuco, organizada por Zila Mamede. Recebe a Comenda do Mérito Aeronáutico e a Grã-Cruz do Equador.

No ano seguinte vai para Honduras, como embaixador. Publica a antologia Poesia crítica.

Em 1982 é agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Vai para a cidade do Porto, em Portugal, como cônsul geral. Recebe o Prêmio Golfinho de Ouro do Estado do Rio de Janeiro.  Publica Auto do frade, escrito em Tegucigalpa.

Ganha o Prêmio Moinho Recife, em 1984 e, no ano seguinte, publica os poemas de Agrestes. Nesse livro há uma sessão dedicada à morte (“A indesejada das gentes”). Em 1986 é agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Pernambuco. Sua esposa, Stella Maria, falece no Rio de Janeiro. João Cabral reassume o Consulado Geral no Porto. Casa-se em segundas núpcias com a poeta Marly de Oliveira.

Em 1987 publica Crime na Calle Relator, poemas narrativos. Recebe o prêmio da União Brasileira de Escritores. É removido para o Rio de Janeiro.

Em Recife, no ano de 1988, lança sua antologia Poemas pernambucanos. Publica, também, o segundo volume de poesias completas: Museu de tudo e depois. Recebe o Prêmio da Bienal Nestlé de Literatura pelo conjunto da obra, e o Prêmio Lily de Carvalho da ABCL, Rio de Janeiro.

Aposenta-se como embaixador em 1990 e publica Sevilha andando. É eleito para a Academia Pernambucana de Letras, da qual havia recebido, anos antes, a medalha Carneiro Vilela.  Recebe os seguintes prêmios: Criadores de Cultura da Prefeitura do Recife, Luis de Camões (concedido conjuntamente pelos governos de Portugal e do Brasil), em Lisboa. É condecorado com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Judiciário e do Trabalho. A Faculdade Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro publica Primeiros Poemas.

Outros prêmios: Pedro Nava (1991) pelo livro Sevilha andando; Casa das Américas, concedido pelo Estado de São Paulo (1992); e também nesse ano o Neustadt International Prize for Literature, da Universidade de Oklahoma. Viaja a Sevilha para representar o presidente da República nas comemorações do dia 7 de Setembro, que tiveram lugar na Exposição do IV Centenário da Descoberta da América. No Pavilhão do Brasil, foi distribuída sua antologia Poemas sevilhanos, em edição especial. No Rio de Janeiro, na Casa da Espanha, recebe do embaixador espanhol a Grã-Cruz da Ordem de Isabel, a Católica.

Em 1993 recebe o Prêmio Jabuti, instituído pela Câmara Brasileira do Livro.

João Cabral era atormentado por uma dor de cabeça que não o deixava de forma alguma. Ao saber, anos atrás, que sofria de uma doença degenerativa incurável, que faria sua visão desaparecer aos poucos, o poeta anunciou que ia parar de escrever. Já em 1990, com a finalidade de ajudá-lo a vencer os males físicos e a depressão, Marly, sua segunda esposa, passa a escrever alguns textos tidos como de autoria do biografado. Conforme declarações de amigos, escreveu o discurso de agradecimento feito pelo autor ao receber o Prêmio Luis de Camões, considerado o mais importante prêmio concedido a escritores da língua portuguesa, entre outros. Foi a forma encontrada para tentar tirá-lo do estado depressivo em que se encontrava. Como não admirava a música, o autor foi perdendo também a vontade de falar (“Não tenho muito o que dizer”, argumentava). Era, sem dúvida, o nosso mais forte concorrente ao prêmio Nobel, com diversas indicações dos mais variados segmentos de nossa sociedade.

Transcrevemos abaixo o discurso proferido por Arnaldo Niskier, presidente da Academia Brasileira de Letras, por ocasião da morte do poeta, em 09/10/99:

“Adeus a João Cabral”

“Severino retirante,
deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida;
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga;
é difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que vê, Severina;
mas se responder não pude
à pergunta que fazia
ela, a vida, a respondeu
com sua presença viva.”

Vida que foi para João Cabral uma bonita e ao mesmo tempo sofrida obra de engenharia poética, como demonstrou no seu inesquecível Morte e Vida Severina.

Aqui está o poeta João Cabral de Melo Neto, presente pela última vez na Academia Brasileira de Letras, de que foi, por 30 anos, uma das figuras fundamentais. Aos 79 anos, apaga-se a voz de significação universal, com a singularidade do seu verso, tantas vezes lembrado para a glória do Prêmio Nobel de Literatura.

A nossa dor, que é também a da sua companheira Marly de Oliveira e dos seus filhos e demais parentes, não apaga da nossa memória a convicção de que foi ele um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos – o poeta da razão – que jamais esqueceu, mesmo nos 40 anos de vida diplomática, as suas raízes pernambucanas. O homem que soube desenhar em versos cálidos a saga do retirante nordestino, quando ainda não havia passado dos 35 anos de idade.

João Cabral, o poeta João, que não se conformava em perfumar a flor, é o mesmo que escreveu aos 22 anos o livro Pedra do Sono, para depois nos brindar, entre outros, com O engenheiro, O cão sem plumas, Poesias completas, A educação pela pedra e o antológico Morte e Vida Severina, com versões no teatro e na mídia eletrônica.

Fecham-se os olhos cansados do poeta João e não conseguimos realizar o sonho que agora desvendo: ver o América Futebol Clube voltar aos seus dias de glória. Nem o daqui do Rio, nem aquele que era a sua verdadeira paixão: o América do Recife.

Quando preparava com ele a Cabraliana, que foi o seu primeiro audiolivro, ouvi fantásticas histórias da vida diplomática, especialmente dos tempos de Portugal, Espanha e Marrocos, além de nele reconhecer um orgulho especial pela família, parente que foi de grandes escritores brasileiros, como Gilberto Freyre, Manuel Bandeira, Mauro Mota e Antônio de Moraes e Silva, o famoso Moraes do Dicionário de Língua Portuguesa. Parece que era herdeiro, no seu jeito tão humilde e cativante, de uma genética literária originalíssima.

É compreensível a nossa consternação. Enquanto a saúde permitiu, honrou esta casa com a sua assiduidade e o seu sentimento da mais pura cordialidade. Sofrendo agora com o seu silêncio, curvamo-nos diante do grande poeta, para afirmar que a Academia sempre o terá presente, com a saudade e a admiração de todos os seus confrades.

Descanse em paz, poeta João. A sua presença jamais deixará de estar conosco. Teremos o consolo da sua poesia imortal.”

Dados obtidos nos livros do autor, em “Obra Completa”, organizada por Marly de Oliveira com assistência do autor e em sites da Internet.

Fonte: http://www.releituras.com/joaocabral_bio.asp

Para Baixar o Audio do Livro: CLIQUE AQUI

Olá Pessoal

O Grupo Teatro do Caos está disponibilizando dois E-Books Gratuitos do Grande Poeta Português Fernando Pessoa. Baixem a Vontade. Enquanto isso aproveite para ler nossas Poesias.

LIVRO DO DESASSOSSEGO

Em textos espalhados em papéis de todos os tipos, de folhas soltas a cadernos só recentemente juntados como obra integral, o poeta Fernando Pessoa produz a comovente autobiografia do guarda-livros Bernardo Soares, morador de Lisboa. Um livro marcado pela poesia profunda de Fernando Pessoal. Vale a pena Ler.

Pequeno Trecho:

“O relógio que está lá para trás, na casa deserta, porque
todos dormem, deixa cair lentamente o quádruplo som claro
das quatro horas de quando é noite. Não dormi ainda, nem
espero dormir. Sem que nada me detenha a atenção, e assim
não durma, ou me pese no corpo, e por isso não sossegue,
jazo na sombra, que o luar vago dos candeeiros da rua torna
ainda mais desacompanhada, o silêncio amortecido do meu
corpo estranho. Nem sei pensar, do sono que tenho; nem sei
sentir, do sono que não consigo ter.
Tudo em meu torno é o universo nu, abstrato, feito
de negações noturnas. Divido-me em cansado e inquieto, e
chego a tocar com a sensação do corpo um conhecimento
metafísico do mistério das coisas. Por vezes amolece-se-me a
alma,e então os pormenores sem forma da vida quotidiana
bóiam-se-me à superfície da consciência, e estou fazendo lançamentos
à tona de não poder dormir. Outras vezes, acordo
de dentro do meio-sono em que estagnei, e imagens vagas,
de um colorido poético e involuntário, deixam escorrer pela
minha desatenção o seu espetáculo sem ruídos. Não tenho os
olhos inteiramente cerrados. Orla-me a vista frouxa uma luz
que vem de longe; são os candeeiros públicos acesos lá em
baixo, nos confins abandonados da rua.”

CLIQUE AQUI para baixar o livro completo.

O GUARDADOR DE REBANHOS

O Guardador de Rebanhos é um conjunto de poemas (49 no total) escritos pelo heterônimo Alberto Caeiro de Fernando Pessoa. Os poemas foram escritos em 1914 e Fernando Pessoa atribiu sua gênses a uma única noite de insônia de Caeiro. Foram publicados em 1925 nas 4ª e 5ª edições da revista Athena, com exceção do 8º poema do conjunto que só viria a ser publicado em 1931, na revista Presença.

Pequeno Trecho:

“O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás…
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem…
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras…
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo…
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo.Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender …
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…”

CLIQUE AQUI para baixar o livro completo.

Obs: Os Ebooks acima não ferem nenhuma lei de propriedade intelectual, portanto você pode baixar e distribuir para quem quiser.

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V. de “O Guardador de rebanhos”

Publicado: 09/07/2009 por Luiz Vieira em Poesias

Há metafísica bastante em não pensar em nada.
O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.
Que ideia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).
O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.
Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?
«Constituição íntima das cousas»…
«Sentido íntimo do Universo»…
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.
Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.
O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.

Fernando Pessoa

Aforismo 05

Publicado: 30/06/2009 por Luiz Vieira em Poesias

Notícia de última Hora:

“Tragédia mata inocente na periferia da cidade”

Não tenho vergonha de dizer

Antes Ele do que eu…

Nasci em um tempo em que a maioria dos jovens haviam perdido a crença em Deus, pela mesma razão que os seus maiores a haviam tido – sem saber porquê. E então, porque o espírito humano tende naturalmente para criticar porque sente, e não porque pensa, a maioria desses jovens escolheu a Humanidade para sucedâneo de Deus. Pertenço, porém, àquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem, nem vêem só a multidão de que são, senão também os grandes espaços que há ao lado. Por isso nem abandonei Deus tão amplamente como eles, nem aceitei nunca a Humanidade. Considerei que Deus, sendo improvável, poderia ser, podendo pois dever ser adorado; mas que a Humanidade, sendo uma mera ideia biológica, e não significando mais que a espécie animal humana, não era mais digna de adoração do que qualquer outra espécie animal. Este culto da Humanidade, com seus ritos de Liberdade e Igualdade, pareceu-me sempre uma revivescência dos cultos antigos, em que animais eram como deuses, ou os deuses tinham cabeças de animais.

Assim, não sabendo crer em Deus, e não podendo crer numa soma de animais, fiquei, como outros da orla das gentes, naquela distância de tudo a que comummente se chama a Decadência. A Decadência é a perda total da inconsciência; porque a inconsciência é o fundamento da vida. O coração, se pudesse pensar, pararia. A quem, como eu, assim, vivendo não sabe ter vida, que resta senão, como a meus poucos pares, a renúncia por modo e a contemplação por destino? Não sabendo o que é a vida religiosa, nem podendo sabê-lo, porque se não tem fé com a razão; não podendo ter fé na abstracção do homem, nem sabendo mesmo que fazer dela perante nós, ficava-nos, como motivo de ter alma, a contemplação estética da vida. E, assim, alheios à solenidade de todos os mundos, indiferentes ao divino e desprezadores do humano, entregamo-nos futilmente à sensação sem propósito, cultivada num epicurismo subtilizado, como convém aos nossos nervos cerebrais.

Retendo, da ciência, somente aquele seu preceito central, de que tudo é sujeito às leis fatais, contra as quais se não reage independentemente, porque reagir é elas terem feito que reagíssemos; e verificando como esse preceito se ajusta ao outro, mais antigo, da divina fatalidade das coisas, abdicamos do esforço como os débeis do entretimento dos atletas, e curvamo-nos sobre o livro das sensações com um grande escrúpulo de erudição sentida. Não tomando nada a sério, nem considerando que nos fosse dada, por certa, outra realidade que não as nossas sensações, nelas nos abrigamos, e a elas exploramos como a grandes países desconhecidos. E, se nos empregamos assiduamente, não só na contemplação estética mas também na expressão dos seus modos e resultados, é que a prosa ou o verso que escrevemos, destituídos de vontade de querer convencer o alheio entendimento ou mover a alheia vontade, é apenas como o falar alto de quem lê, feito para dar plena objectividade ao prazer subjectivo da leitura.

Sabemos bem que toda a obra tem que ser imperfeita, e que a menos segura das nossas contemplações estéticas será a daquilo que escrevemos. Mas imperfeito é tudo, nem há poente tão belo que o não pudesse ser mais, ou brisa leve que nos dê sono que não pudesse dar-nos um sono mais calmo ainda. E assim, contempladores iguais das montanhas e das estátuas, gozando os dias como os livros, sonhando tudo, sobretudo, para o converter na nossa íntima substância, faremos também descrições e análises, que, uma vez feitas, passarão a ser coisas alheias, que podemos gozar como se viessem na tarde. Não é este o conceito dos pessimistas, como aquele de Vigny, para quem a vida é uma cadeia, onde ele tecia palha para se distrair. Ser pessimista é tomar qualquer coisa como trágico, e essa atitude é um exagero e um incómodo. Não temos, é certo, um conceito de valia que apliquemos à obra que produzimos. Produzimo-la, é certo, para nos distrair, porém não como o preso que tece a palha, para se distrair do Destino, senão da menina que borda almofadas, para se distrair, sem mais nada.

Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde ela me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.

Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também.