Hoje.
Um dia sombrio vem ao meu encontro
Percebo o dia, lento, dedicado, escuro.
Os ponteiros como âncoras
Firmes a segurar.
Rodolfo Morais
Hoje.
Um dia sombrio vem ao meu encontro
Percebo o dia, lento, dedicado, escuro.
Os ponteiros como âncoras
Firmes a segurar.
Rodolfo Morais
As plantas da minha casa
Todas elas estão florindo
Dia-após-dia
Uma nova flor
Uma flor, duas flores, um jardim.
Jardinando…
Por onde andará um pássaro perdido?
Um espírito sem direção ou vida que o excite
Tudo acabou e somos quase estranhos
Agora qualquer vôo é possível
Mas não se vê nada que valha a pena
Talvez rotas antigas?
Quem pode dizer sobre reviver o passado?
Alvorada de tristezas
Sonhos antigos e novos
Se misturam pelos becos enlameados
Pelas vielas mal cuidadas do pensamento
Não saber o que se quer…
A dádiva dos que nunca conseguiram ser
O abraço silencioso a beira de um rio belo e misterioso
Todos sabem o melhor a se fazer
Arrume as malas, nunca mais volte
Mas como fazer isso antes do dia amanhecer?
Algumas águias podem fugir sozinhas
E adormecer num monte silencioso por dias
Até que possa voltar ao que sempre lhe pertenceu
Alguns sabores são inesquecíveis
Mas é preciso que lhe façam dormir
E o deixem descansar em versos do passado
É preciso calma para se recompor
Talvez muito whisky e ceticismo
Talvez algumas novas aventuras
Certo é poder pegar qualquer vôo
Escolher qualquer direção e esperar
Certo é a necessidade de partir
Um passo por vez, dia após dia
E finalmente, tudo será uma boa lembrança
Um abraço forçado do passado.
Luiz Vieira
As pessoas perguntam como funcionam os mecanismos
como se processam as coisas, o quê ou quem sou eu
talvez um conjunto de rimas resolva, talvez não…
É eminentemente complexo, embora simples
talvez eu arrume uma definição melhor à posteriori
mas por hora, para não se perderem,
entendam assim:
Bruto por definição,
Filosofia por opção,
Teatro por paixão,
Fotografia por amor/profissão
e Poeta transitório, por indignação
…movendo as molas do mundo só pra ver o que acontece…
JEFERSON
Nem tão preso aos desígnios da Terra
nem tão distante à ponto de não haver colisão
assim, de graus em graus
vamos vertendo todos os delírios diários
desvencilhados da manifestação contínua
de todos as esferas e imagens projetadas
de todos os absurdos ou superficialidades reveladas
degrau a degrau vamos subindo em direção ao inevitável
o lugar pouco arejado onde são edificados nossos algozes irreais
nosso mundo não domesticado
nosso painel de letras irreconhecíveis
nossa estrada de fundo praticável
onde podemos olhar a paisagem que só nós conhecemos
contemplarmos os destinos falidos dos vorazes
arquitetarmos nossas glórias, nossas vitórias clandestinas
nossos olhos feridos pela claridade que não conhecemos
desintegrando o mundo particular que habitamos
nos calabouços quase irreconhecíveis
abaixo de nossos sapatos gastos
e acima de tudo existente
entre um olhar, um silêncio imperceptível
uma fresta ou outra que insiste em perdurar
e os abalos sísmicos de cada ferida não cicatrizada
dispostas em lacunas que, em tese, nunca existiram
sobrepujadas por gestos que nunca ocorreram
e o errante destino particular dos covardes
acalentados por um quase sorriso
de uma quase vida de merecimento
e um prazer estranho atrelado à solidão e ao sofrimento
JEFERSON
Me jogando contra as paredes
perdido
em um dos milhares de labirintos tortuosos
de meu quarto cada vez mais apertado
pelas lacônicas sombras e sobras
das lacunas da noite
Destinos incompletos
abstrações inúteis de inúteis displicências
e inúteis resultados e complicações
as ocasiões cobrando mais caro
todas as taxas que sempre nos recusamos a pagar
Uma estrada conhecida,
sempre de trajetória imprecisa
a gente com todo o fôlego que não temos
rememorando o que nunca aconteceu
nos afundando mais e mais
na certeza de que de tudo que planejamos
nada segue as regras
enquanto a noite vira ao avesso
só para nos mostrar
que estamos cada vez mais longe do que éramos
e é tarde demais pra voltar…
JEFERSON
A máxima sempre aponta para o continuar,
mas não há opções plausíveis
nem caminhos diferentes
àqueles aos quais não ousam arriscar
e tudo parece, sempre, infinitamente
mais simples e menos urgente
quando visto do lado de fora
e não é nosso o sangue
que é derramado a cada dia de permanência
dentro do turbilhão de motivações insensatas
e um emaranhado de objetivos desconexos
nos cobrando decisões a cada escurecer…
JEFERSON
Silentes andam os errantes
dia após dia
sedentos de uma diretriz eficiente
Para cada coisa um propósito nefasto
para a faculdade de esquecer, o esquecimento
para a faculdade de lembrar, o sofrimento
os segundos nos perfurando por horas
horas entre dias,
dias entre mãos, mãos por trocados,
e trocados por ilusão
Incontáveis e diferentes destinos
esperando por soluções semelhantes
indo noite adentro
por dias à fio
à procura de respostas
para perguntas que ainda nem foram feitas
JEFERSON
Meu império de palavras insuficientes
minha cara desbotada de sempre
esperando o ônibus à luz do dia
tudo claro ao redor
a fenda de uma ferida que não cicatriza
os olhos fechados, as lembranças de sempre
glórias incompletas
sentimentos vazios, pensamentos vorazes
pessoas felizes
ou, aparentemente, próximas disso
o que é suficiente para saber que não somos iguais
não é em vocês que reside a escuridão
carrego o mundo comigo
por motivos diferentes todos uma hora vão embora
eu permaneço…
acordado…
lembrando-me de tudo…
JEFERSON
Hoje encontrei aquele velho amigo bêbado de novo
Nada de novidade, perdido, incontestavelmente : vivo
Dizia-me como não queria a passividade das maças verdes
Logo percebi seu anseio ambíguo pelo inatingível
Disse-me sobre as impossibilidades próprias da vida
Enquanto, eu insosso cantava meu copo de vinho
Revelava-me, o que é novo na vida – POSSIBILIDADES.
As coisas não estão presas nas suas mínimas necessidades
Melhor que minha alma errante ele determinava caminhos
Não os mesmos, mas os diferentes – as cortinas fechadas
As impossibilidades que os reis escondiam
Luiz Vieira
Aqueles velhos passos na noite sozinho
O encontro possível entre cervejas e gritos
Todos os caminhos levam ao mesmo lugar
Misteriosamente, esperamos o outro dia
Peça mais uma, eu ainda não estou pronto
Pervertida ela dança por entre as mesas
Olha como se tivesse perdido a virgindade
Em algum lugar do meu paletó encardido
Alguns – muitos – fumam estericamente
Escorados no balcão nós cuspimos em nosso destino
– “Vejam o lado bom das coisas”
O destino é algo bom para se cuspir diariamente
Afinal, será sempre uma atitude recíproca
Acredite, eu sei do que estou falando
Lá fora deprimido o céu negro esqueceu-se
Nós ajudamos a noite, cantamos desafinados
Estamos perdidos até o amanhecer
Luiz Vieira
Ei garota, nós vimos o céu por diversas vezes.
E digo que nos perdemos desde então.
Não sobrou muita coisa de nós para contar não é mesmo?
Talvez o último momento seja todo o tempo que precisamos.
O famoso toda vida em um segundo.
Eu realmente não posso te ajudar em muitas coisas sabe.
Afinal minhas pernas estão amarradas e vou demorar aqui.
Se você pensou em se jogar da ponte, vá fundo, não há como detê-la.
Tomar diversos tipos de bebidas foi o mais perto da morte que já estive.
Sei que nossas vidas estão indo cada uma para um rumo.
Mas como você disse: “Nossas vidas hão de se encontrar”.
Posso ver que não chegamos muito longe, mas e daí, eu não mais me importo.
Acho que as coisas estão bem agora. Sempre estiveram.
As coisas funcionam muito bem quando os nós estão todos desatados.
A vida segue seu curso e a corda não me incomoda mais.
Como achará os rumos da sua vida sendo assim tão artificial?
Vivamos a vida, e que tudo se dane.
E assim seguindo os seus passos eu consolido os meus.
– Sim, pode me ligar amanha. Eu estarei esperando.
Acho que te seguirei sim. Por onde você for.
Mas não vá tão longe, pois minha preguiça é grande e posso me cansar.
Rodolfo Morais
Todo Carnaval Tem Seu Fim – Los Hermanos
Composição: Marcelo Camelo
Todo dia um ninguém josé acorda já deitado
Todo dia ainda de pé o zé dorme acordado
Todo dia o dia não quer raiar o sol do dia
Toda trilha é andada com a fé de quem crê no ditado
De que o dia insiste em nascer
Mas o dia insiste em nascer
Pra ver deitar o novo
Toda rosa é rosa porque assim ela é chamada
Toda Bossa é nova e você não liga se é usada
Todo o carnaval tem seu fim
Todo o carnaval tem seu fim
E é o fim, e é o fim
Deixa eu brincar de ser feliz,
Deixa eu pintar o meu nariz
Toda banda tem um tarol, quem sabe eu não toco
Todo samba tem um refrão pra levantar o bloco
Toda escolha é feita por quem acorda já deitado
Toda folha elege um alguém que mora logo ao lado
E pinta o estandarte de azul
E põe suas estrelas no azul
Pra que mudar?
Deixa eu brincar de ser feliz,
Deixa eu pintar o meu nariz
Eu a vejo tão perto, tão perto estou e vejo
Vejo… O quanto vai crescer e quando vai morrer.
Já não tenho pra onde correr
Já sei mais o que vou fazer
A estrada é tão longa, tão opressora
Tenho preguiça em percorrê-la
Não pretendo mais sabotar a vida
Ela corre em minha direção e eu fujo sem compromisso
Não espero que ela me atenda, nem mesmo que me defenda
Estou correndo rumo ao fim
Ele corre diante de mim
E cá estou para esperá-lo, sem noção do que fazer
O caminho nada virtuoso, falso herói é o que estou sendo.
Sem desafios nem promessas, nem dragões, nem odisséias.
Meu cavalo não está selado, meu tapete bem tecido.
A cada noite desfaço uma linha, enfrento viúvas e seus monstros
Numa ilha paramentada com crânios e promessas
E eu… Não sei…
Eu… Não sei…
Ao meu lado está a Vênus com suas linhas e sem suas vestes.
Controlando cada momento de insanidade e prece.
Como tê-la esperando?
Algo aqui está fedendo, sem minhas ilhas de vivência
Não espero mais clemência e dissolvo os seus livros
Em consumo excessivo.
Estou chegando do outro lado da rua
Grandes valas de esgoto, portas e encomendas.
Eu… não sei…
Eu não sei…
Eu não sei.
Rodolfo Morais
Tá-hi (Pra Você Gostar De Mim)
Roberta Sá
Composição: Joubert de Carvalho
Tahí
Eu fiz tudo pra você gostar de mim
Ó, meu bem
Não faz assim comigo, não
Você tem
Você tem
Que me dar seu coração
Meu amor, não posso esquecer…
Se dá alegria, faz também sofrer
A minha vida foi sempre assim
Só chorando as mágoas que não tem fim
Essa história de gostar de alguém
Já é mania que as pessoas têm
Se me ajudasse nosso senhor
Eu não pensaria mais no amor
O teatro está morto!!!
Eu o matei semana passada…
deitado inerte
em meu quarto de esperanças vãs e palavras vazias
Enquanto do lado de fora do mundo
eco das falas sempre repetitivas
de peças idiotas
sobre teatro, fazer teatral
opção de vida
e qualquer clichê ou reclamação banal
batiam nas paredes
mas, não conseguiam entrar em nossas casas
pois estávamos protegidos
dos discursos demagógicos escolhidos
e de todas as frases imbecis e vazias!!!
Se alguém tiver coragem
de se manifestar a respeito de teatro e do fazer teatral
que guarde para si as suas considerações
pois o que pensam vocês
ou o que vocês escolheram para suas vidas
não me interessa!
…Estou bastante ocupado sobrevivendo ao fim do mundo…
JEFERSON
(Fragmento de “Teatro do Caos e a decisão que precede a escolha” do grupo Teatro do Caos)